Textos sobre tecnologia, linguística, tradução, filosofia, mágica, línguas estrangeiras, modelismo, música.
Thursday, December 6, 2007
Cynthia I
depois de mais uma hibernação primaveril e passada a correria de final de semestre (e depois os alunos pensam que eles têm muito trabalho em final de semestre...), volto ao blog para mostrar-lhes um projeto terminado.
É um nautimodelo motorizado, uma lancha de passeio de final-de-semana de gente rica. Tem 1,15 m de comprimento por 35 cm de largura. Comprei o modelo há algum tempo de um revendedor de produtos modelísticos. Ele não soube me dizer quem construiu o barco e muito provavelmente essa pessoa habilidosa já deve ter falecido.
O modelo veio com uma fiarada imensa, relês, fusíveis, contatos diversos, cheio de gambiarras. Pelo material elétrico que veio nele, estimo que o modelo tenha sido construído e usado na década de 60. Nessa época, não havia nenhum recurso eletrônico como speed controls (um componente eletrônico que controla a velocidade do motor a partir do comando do rádio transmissor) e até nisso o construtor do barco foi engenhoso.
O primeiro passo foi limpar todo o interior do modelo, retirando todo o material elétrico. Em seguida, passei à fixação do motor novo que estou usando, um motor brushed (escovado) 600 de 12 v, que dá mais torque e menos velocidade que os motores convencionais de barcos e carros elétricos. A fixação do motor foi complicada devido aos pinhões curvados usados no eixo da hélice. Tive que fazer um suporte de madeira e cortá-lo várias vezes até atingir a altura correta para o encaixe das engrenagens.
Para o servo do leme também tive que fazer um suporte em compensado 10 mm cortado com Dremel. O servo foi fixado com Epoxi 30 min. Como seria impossível usar o comando do servo original (devido à curvatura que não proporcionava comando para um dos lados), tive que retirá-lo e usar dois braços duplos de servo com arame de link. Não ficou 100% preciso, mas deve funcionar.
Além disso, usei um speed control da Traxxas para automodelos c/ ré (os motores 12 v têm velocidades para frente e para trás iguais) e uma bateria de chumbo selada de 1,3 mAh. Por enquanto, coloquei as luzes de navegação verde e vermelha e um farol, alimentados por um pack de 4 pilhas AA (6 v), mas em breve devo aumentar o número de "frescurites", mais luzes, sons de motor a diesel e buzina.
O modelo, por pura e espontânea pressão, foi batizado de Cynthia I, por que será? E ainda tem mais - uma exigência de que o próximo nautimodelo seja o Cynthia II...
É isso, aqui estão algumas fotos. Em breve, algumas fotos e vídeos dele "em atividade" na água. Para ver as fotos em tamanho original, basta clicar sobre elas.
Grande abraço,
Lanzetti
Thursday, September 27, 2007
Piano & Sax
tenho conversado ultimamente com amigos de longa data que nunca ouviram falar que eu tinha CDs gravados. Assim, pois, decidi tirar as pobres obras do esquecimento alheio e trazer-lhes um pouco de atenção digital.
Gravei 3 CDs em home studio, com um equipamento bastante simples, mas muito funcional: um laptop, uma placa de áudio/interface USB M-Audio, microfones profissionais e um bom programa de masterização/edição de som, o Adobe Audition.
O processo é penoso e requer bastante paciência, mas consegue ser prazeroso e, ao final, dá um tremendo sentimento de "dever c(u/o)mprido".
O primeiro passo é a escolha do repertório. Costumo fazer diversas pré-gravações para ver o que fica bem com que instrumento, que estilos posso misturar, que música devo/não devo gravar. Em seguida, com o repertório definido, gravo a base em um piano digital Yamaha Clavinova CLP 130, usando sons de grand piano, o piano de cauda, e outros instrumentos, como xilofone, órgão de tubos, violinos, baixo acústico, entre outros.
Sempre preferi o piano digital ao acústico, e posso dizer o porquê (aliás, isso soa como uma inescusável heresia aos ouvidos dos músicos brasileiros): aqui no Brasil, os únicos pianos a que temos acesso são o Fritz Dobbert e o Essenfelder. Bem, que me desculpem essas fábricas nacionais, mas esses pianos são sofríveis. Eu não costumo ser entreguista, elogiando produtos estrangeiros em detrimento dos nacionais, mas nesse caso, não há o que se discutir... os melhores pianos do mundo são os japoneses, alemães e americanos; o melhor, aliás, é, sem dúvida, o famoso Steinway & Sons, utilizado por 9 de cada 10 grandes concertistas no mundo. Dito isso, o argumento a favor do piano digital torna-se bem simples - comparado com os pianos "compráveis" no Brasil, os pianos digitais são baratos e funcionais. Com eles, é possível ter, ao mesmo tempo, um piano, um órgão, um cravo, enfim, uma orquestra dentro de casa. As teclas, também de madeira com marfim (ou pelo menos de um material sintético idêntico), têm o mesmíssimo peso e resposta mecânica se comparadas às teclas de um piano acústico. Aliás, minto... o peso das teclas do Yamaha Clavinova é suave e agradável, não é o mesmo peso de um Fritz Dobbert ou de um Essenfelder, mas de um Steinway. Além disso, é possível gravar e sequenciar músicas no piano digital, usá-lo como controlador MIDI para fazer gravações, estudar de madrugada usando fones-de-ouvido, não precisa ser afinado nunca, entre muitas outras coisas. Ah, mas e o som? Os músicos puristas dizem que o som de piano digital nunca será idêntico ao de um piano acústico. Bem, basta dizer que a tecnologia de gravação dos sons de pianos digitais como o Clavinova é a Multi-sampling. Técnicos gravam, de pianos acústicos da melhor qualidade, centenas, senão milhares de samples de sons de cada nota, em todas as variações possíveis de velocidade e volume, e os inserem no "cérebro" do piano digital. Quando toco um piano digital, o que ouço, na verdade, é um som puro de um piano de cauda acústico. E os harmônicos? No piano digital, eles não só existem, mas também são configuráveis: Maior/menor Puro para coros, pitagóricos para instrumentos em geral, Werckmeister para tocar Bach e Beethoven, e assim por diante.
Depois de várias gravações da mesma música no piano digital, escolho a melhor e uso a interface USB para digitalizar a gravação para o computador. Em seguida, masterizo o piano com um leve reverb e transformo a gravação mono em estéreo. O passo seguinte é gravar, por cima da base, o saxofone. Uso o recurso de multi-faixa do Adobe Audition e, enquanto ouço o playback da base, executo a música com o sax por cima. Masterizo o som do sax (sempre com um reverb um pouco mais perceptível) e faço a mixagem - temos aí uma música pronta. O processo todo para a gravação de uma música leva por volta de 5 dias, dependendo muito da música que está sendo gravada.
Bem, aqui estão as capas dos CDs que gravei até agora. Infelizmente não possuo cópias de nenhum, mas em breve lançarei o 4o CD com repertório bastante inovador. Além disso, incluirei também instrumentos antes olvidados, como a flauta doce e a clarineta.
Este primeiro CD, Rafael Lanzetti - Piano & Sax, teve o seguinte repertório:
1. Here, there and everywhere (
2. My
3. Ain't misbehavin' (Fats Waller) – 2'45''
4. Misty (Barrel Garner) – 4'15''
5. The beauty and the beast (Alan Menken) – 2'52''
6. Just a closer walk with Thee (tradicional) – 2'41''
7. Our first year (Rafael Lanzetti) – 3'11''
8. Odeon (Ernesto Nazaré) – 1'58''
9. Somewhere in my memory (John Williams) – 3'15''
10.
11.
12.
13. It is well with my soul (Philip Bliss) – 2'41''
14.
15. Moon river (Henry Mancini) – 2'30''
Como vocês podem notar, não há qualquer preocupação de minha parte em manter uma coerência entre as músicas. A idéia é misturar tradições musicais - desde o gospel americano (Just a closer walk with Thee, It is well with my soul), passando pelos clássicos do cinema e o do jazz (Moon River, Misty, Ain't Misbehavin') até o chorinho e o bolero brasileiro (Carinhoso e Odeon). Neste CD, usei a base com o piano digital e um sax soprano Winston com boquilha Selmer e palheta Rico Royal no. 3.
Antes de produzir esse primeiro CD, tive de tomar essa decisão norteadora. Por motivos comerciais, decidi não fazer CDs temáticos, muito embora fosse uma proposta mais coerente, como, por exemplo, um CD só de arranjos de músicas dos Beatles. O problema é que, se alguém não gosta de Beatles, não vai se interessar pelo CD. Com um repertório tão "bagunçado", no entanto, é mais fácil agradar a aqueus e troianos.
O segundo CD, Canções de Inverno, foi o meu best-seller até agora, com uma produção bem melhor que o primeiro. Aqui está o repertório:
1. Wave (
2.
3. As
4. Anemós (Rafael Lanzetti) – 4:05
5.
6. O
7.
8.
9. Feather Theme (Alan Silvestri) – 2:27
10. Someone to watch over
11. Moonlight serenade (Glen Miller) – 5:07
12. Edelweiss (Richard Rodgers) – 4:17
13. Smile (
14. I don't know why (Jesse Harris) – 2:54
15. What wondrous love is this? (
16. Night prayer (Petrus Herbert) – 2:53
O repertório continuou variado e pude introduzir um novo instrumento, um sax alto Conn Shooting Stars com boquilha Claude Lakey e palheta Rico Royal no. 2 1/2. A grande novidade foi a utilização da técnica de gravação multi-faixa para os saxofones. Em algumas músicas, como O nome Cristo, há 3 saxes tocando, um soprano e dois contraltos, gravados um sobre o outro. É um álbum light para escutar em momentos de tranquilidade. Algumas músicas, como Smile, Tema de A Lista de Schindler e Feather Theme (tema musical do filme Forrest Gump), são verdadeiros soníferos...
O terceiro e derradeiro CD, It is well with my soul, teve uma proposta mais tupiniquim. Proporcionalmente, há muito mais músicas brasileiras que nos outros dois álbuns:
1.
2. It is well with my soul (2:49) - Philip P. Bliss/arr. Rafael Lanzetti
3.
4. Odeon (1:53) – Ernesto Nazareth
5.
6.
7. André de
8. Boa
9.
10. Here, there and everywhere (4:58) – John Lennon/
11. Newlywed (3:21) – Rafael Lanzetti
12.
Em breve, informações sobre o 4o CD. Estou na fase de escolha de repertório.
Se quiserem mais informações sobre alguma música, sobre as técnicas de gravação ou se quiserem amostras gratuitas de músicas dos CDs, deixem aqui seus comentários que terei o maior prazer em respondê-los.
Àqueles que se interessam por música, querem aprender algum instrumento musical e não sabem qual, querem saber como e onde aprender, meu e-mail para assessoria e informações: rafael.lanzetti@gmail.com
Grande abraço e até a próxima,
Rafael Lanzetti
Tuesday, September 11, 2007
Upgrade da Estrada de Ferro Lanzetti Railway Co.
como prometido aos amigos ferreomodelistas, publico aqui algumas fotos do recente upgrade que fiz à decoração da minha maquete em escala HO. Na verdade, como todos sabem, pelo menos 60% do trabalho foi da minha esposa, já que, como combinado, "a decoração é com ela".
Em primeiro lugar, adicionei 10 postes com luz - 5 postes de rua para o pátio de manobras e 5 postes de vizinhança para iluminar a rua das casas e o novo parque das crianças (clique nas imagens para visualizá-las melhor).
A instalação de postes de luz é uma coisa bastante chata de se fazer. É preciso furar o tablado, o que pode deslocar trilhos e outras coisas do lugar, soldar os positivos e negativos em paralelo e usar uma fonte. A pergunta é, que fonte usar? Depois de alguns testes, decidi que iria usar uma fonte de voltagem regulável (assim posso variar, por exemplo, de 9v a 12v, dependendo do resultado da iluminação) e de 1 ampère (1000 mA). O segredo dos postes é não deixá-los brilhosos demais porque perdem o realismo. Um poste que ilumina 10 cm2 da sua maquete não é real, porque, em escala cheia (1:1), um poste assim iluminaria 87 m2! O brilho da luz dos postes, regulado a partir da voltagem da fonte, deve ser tênue, para representar o mesmo brilho de um poste real.
Acrescentei também uma torre de TV com um led na ponta e, como todo led, precisa de um pequeno resistor, já que não suporta cargas altas. O resistor precisa ser colocado sempre no positivo. Assim, é uma boa idéia ter uma fonte que permita a inversão da polaridade porque, para as microlâmpadas dos postes, a polaridade não faz diferença, mas para os leds, sim.
Quanto à decoração: acrescentamos várias figuras humanas de passageiros nas estações, crianças no parque etc.; Um parque para as crianças com escorregador, gangorra e balanço; um sorveteiro e um senhor com realejo (com direito ao mico de estimação); dois velhos jogando xadrez numa mesa; pessoas sentadas nos bancos do parque; uma igreja com uma cena de casamento (a igreja foi comprada pronta da minitech. O alicerce da igreja foi feito com massa de argila para modelar, bem prática e dispensa o uso de água. O caminho para a igreja foi feito com a mesma massa e com flores decorativas feitas pela Cynthia. Essas flores são aqueles ramalhetes de enfeites vendidos em papelarias e lojas de decoração. Ela cortou os caules e colou as flores numa base de EVA.); uma madeireira feita pela Cynthia (com madeira balsa 1mm e base de EVA); uma fábrica de cimento (feita de papel cartão e janelas de plástico do kit da Frateschi); uma cabana de linha, uma outra casa e uma mercearia, todas feitas pela Cynthia com papel cartão (os telhados foram feitos de papel canelado); um alambrado para a entrada do virador de locomotivas; outdoors feitos de madeira balsa e etiquetas transparentes PIMACO; barcos no lago (agora falta o pescador e os banhistas); muitas árvores feitas de folhagem seca tingida de verde com tinta xadrez em pó e "troncos" de cabinhos de tangerinas/mexericas; anões de linha com leds (ligados direto aos trilhos); cercas verdes com flores para dividir as linhas; pastores com seu rebanho de ovelhas e, finalmente, um pano de cortina para esconder os fios debaixo da maquete.
Falando nisso, quem quiser pode encomendar os seguintes itens de decoração à minha esposa:
1. Caminho de flores
2. Madeireira
3. Casas de diversos modelos
4. Indústrias (cimento, carvão etc.)
5. Outdoors personalizados
6. Árvores de diversos tamanhos e modelos
Para obter mais informações (preços e fotos), falem diretamente com ela: cynthia.lanzetti@gmail.com
Para ver fotos da nova decoração, assista a este vídeo do Youtube:
Agora, a grande novidade - um simulador de som caseiro. Queria "inventar" um simulador de som barato e prático, e acabei executando o seguinte plano: baixei um programa para associar sons Wave a teclas do teclado. No meu caso, usei o Wave Board, mas qualquer programa com essa função serviria (existem muitos programas desses gratuitos no www.baixaki.com.br). Em seguida, comprei um teclado numérico para laptops e instalei no painel de controle da maquete. Usei umas caixas de som para computador que estavam jogadas num canto daqui e as coloquei estrategicamente embaixo da maquete. Assim, o único inconveniente é que preciso levar o laptop para perto da maquete e ligar o teclado numérico USB e as caixas de som nele, mas consegui, baixando do site sound.org diversos sons reais de locomotivas a diesel, frenagem, sino, apito, pessoas conversando na estação, aviso na estação, pássaros, galinhas, bois, cabritos etc. E a maquete ficou bem mais divertida!
Vejam uma demonstração no Youtube:
A qualidade do vídeo e do som não é das melhores, e é meio complicado filmar e controlar a maquete ao mesmo tempo, mas prometo fazer um vídeo melhor no futuro.
Um abraço e até a próxima,
Rafael Lanzetti
Thursday, September 6, 2007
Vol. IV - Wordfast (Vídeo-aula)
já está disponível o Vol. IV da série Vídeo-Aulas sobre o Wordfast. É um curso completo desse programa de memória de tradução com explicações teóricas e práticas.
Conteúdo da vídeo-aula:
1. Introdução - programas de memória de tradução, memória de tradução vs tradução automática, vantagens dos programas de memória de tradução;
2. Funções básicas do Wordfast;
3. Usando arquivos de memória de tradução;
4. Atributos e configurações das memórias de tradução;
5. Glossários - uso e configuração;
6. Configurações do Wordfast;
7. Barra de ferramentas do Wordfast;
8. Tradução de apresentações do PowerPoint;
9. Localização de Websites com o Wordfast;
10. Funções do Plus Tools;
11. Dicas finais
Esse é o penúltimo volume da série. O último será sobre legendagem. Deve ficar pronto até o final da próxima semana.
Em resumo, temos:
Vol. 1 - Microsoft Word (esgotado)
Vol. 2 - Localização de Websites (esgotado)
Vol. 3 - Wordfast
Quem quiser encomendar algum CD, pode me enviar um email (rafael.lanzetti@gmail.com) ou escrever aqui um comentário.
Um abraço e até a próxima,
Lanzetti
Friday, August 24, 2007
Tutoriais no Youtube para tradutores
gravei alguns tutoriais para meus alunos, ex-alunos e amigos tradutores. Aqui está a relação:
1. Macros para Tradutores - macros distrubuídas gratuitamente pelo Portal Logos. Quem quiser o arquivo de macros, pode me pedir deixando um recado neste post. As macros incluem conversão de arquivos .pdf para .doc, contagem de palavras em .pdf e .html, recurso de glossário com tradução automática, entre outros.
2. Babylon - Dicionário/enciclopédia/glossário eletrônico e online essencial para tradutores (tutorial em duas partes).
3. Houaiss - Dicionário eletrônico (melhor que o Aurélio).
4. Conversão de arquivos PDF para RTF (editáveis com o Word).
Infelizmente a qualidade dos vídeos no Youtube cai muito. Quem quiser, pode encomendar um CD com esses tutoriais em vídeos com boa resolução ao preço de R$ 5,00 + frete. Já resolvi o problema das imagens na captação do vídeo e melhorei a qualidade do som - agora estéreo.
Em breve, vou lançar o vol. 2 da série Vídeo-aulas. O tema será "Tradução de páginas da Internet".
Grande abraço,
Lanzetti
Friday, August 17, 2007
Vídeo-aulas (Vol. I - Microsoft Word)
Wednesday, August 8, 2007
O filósofo autodidata
Depois de muito procrastinar, pus-me a redigir este texto sobre uma das obras que mais me marcaram até hoje - El filósofo Autodidacta, de Ibn-Tufayl.
Abu Bakr Muhammad ibn 'Abd al-Malik ibn Tufayl (conhecido simplesmente como Ibn-Tufayl ou Abentofail), filósofo, poeta, teólogo, matemático, astrônomo e médico, nasceu Guadix, na Andaluzia, no começo do século XII. Durante toda a chamada Baixa Idade Média, até o final do século XV, a Espanha, mais especificamente a Andaluzia (Al-Andalus) figurou-se explêndida em termos de arte, ciência, enfim, civilização. Foi uma das poucas regiões na geografia e história da humanidade onde viveram em paz judeus e muçulmanos. O primeiro Renascimento, muito antes do Renascimento Ocidental, ocorreu ali, por mãos e cabeças de árabes e judeus. Para os que estudam tradução, é extremamente importante investigar o que ocorreu na Escola de Toledo, a primeira instituição organizada de tradutores do mundo, onde foram estabelecidos os primórdios das teorias de tradução com as quais lidamos até hoje, principalmente através de Maimônides.
Abentofail cresceu neste ambiente iluminado, teve uma vida solitária e dedicada ao conhecimento e morreu no Marrocos por volta do ano 1185, deixando um legado intelectual incalculável. Sua obra mais conhecida é O filósofo autodidata.
No prólogo da novela, Abentofail já expressa sua maior inquietude - o conflito entre razão e fé. Sua tese, bem parecida com a dos primeiros apologistas cristãos, era a de que, ao usar boa razão, se chega à fé. É possível chegar à fé por revelação divina, mas também é possível chegar a Deus através da observação do mundo fenomênico.
No começo da novela, Abentofail introduz o protagonista, Hay Benyocdan e dá duas versões para o seu nascimento: a primeira, que teria sido criado por uma estranha conjunção de elementos a partir de um punhado de barro. A segunda, mais aceita, que teria nascido bastardo e lançado ao mar numa pequena balsa por sua mãe, temerosa de que alguém descobrisse seu delito. A partir daí, Abentofail descreve como o menino Hay cresceu numa ilha deserta (que alguns acreditam ser o Sri Lanka), e foi criado por uma gazela.
Assim como Adão, Hay logo se descobre nu e cobre suas vergonhas. Ao observar os outros animais, descobre que é o único que não está coberto com pelagem natural, e se sente sozinho, assim como Robinson Crusoé. Aliás, Borges chamou Hay de "Robinson Crusoé metafísico", daqui a pouco explico o porquê.
Dois acontecimentos, no entanto, mudam o curso de sua vida - a morte da gazela que o criara e o descobrimento do fogo. Quando a gazela morre, Hay, em sua angústia, começa a se perguntar o que existe na essência dos seres que os faz estar vivos. Assim, começa a dissecar o cadáver da gazela e a remexer em suas vísceras em busca do que seria a sua alma, tudo em vão. Ao descobrir acidentalmente o fogo, através de um raio, Hay fica maravilhado e imagina que o princípio da vida dos seres, a alma, deve ser algo similar ao fogo.
Depois disso, Hay começa a trabalhar - aperfeiçoa a arte da construção de cabanas, a confecção de roupa, a culinária e a domesticação de animais. Ao reparar, um dia, em seu rebanho, começa a pensar que a alma dos animais devia ser diferente da alma das plantas.
Para entender o mundo que o cerca, Hay começa a observar os astros e seus movimentos rotatórios. Neste ponto, Hay chega ao ápice de sua viagem filosófica - à conclusão de que, para existir tudo o que existe, no céu e na terra, para existir um mundo vivo e móvel, deve existir um ser superior que tudo comanda, e que tudo criou, que colocou no mundo tudo o que há. Hay chega a Deus - sem língua, sem civilização, sem escolaridade sistemática.
Depois disso, Hay considera que comer animais e arrancar frutos das árvores é uma afronta ao plano divino e se converte em um asceta fanático. Para assemelhar-se aos astros, decide imitar seus movimentos rotatórios e começa a rodar em volta de si mesmo e ao redor da ilha. Segundo meu amigo Pablo Maurette, filósofo argentino que me apresentou o texto de Abentofail em meados de 2001, em uma de nossas conversas,
En el siglo XIII, menos de cien años luego de la muerte de Abentofail, un
místico y poeta conocido como Rumi fundaría en Turquía la orden de los derviches
mevlevís, que subsiste hasta el día de hoy (aún se los puede ver girar como
trompos en sus templos de Estambul y de Konia). Los mevlevís, al igual que Hay
Benyocdan, giran imitando a los planetas para entrar en vertiginoso trance y
acercarse a la divinidad.
Finalmente, Hay se entrega à meditação, recolhendo-se a uma caverna. Dentro da caverna, tem um encontro místico com Deus, assim magistralmente descrito por Abentofail:
De este modo escuchó la voz de Dios que se le reveló como único y omnipotente,
como rey de reyes. En aquella cueva Hay Benyocdan se abismó y contempló lo que
ojo no vio, ni oído oyó, ni pudo ocurrírsele al corazón del hombre.
Um dia, chega à ilha Asal, um teólogo, pregador muçulmano renegado que fugia de seus perseguidores. Asal encontra Hay e ensina-lhe árabe e o Corão. Hay confirma, no texto sagrado dos muçulmanos, tudo aquilo que havia aprendido sozinho a partir da contemplação da natureza. Asal, espantando com aquela sabedoria incivilizada, decide se juntar a Hay em sua vida reclusa.
As interpretações do magistral texto de Abentofail são muitas, e não teria condições físicas e capacidade filosófica para fazê-las todas aqui. Quero focalizar apenas duas de minhas interpretações e deixar o texto para quem quiser comentar com suas próprias idéias.
A primeira coisa que podemos extrair do texto é que Hay, sem língua, possui pensamento, que vai se tornando tão complexo, que chega a Deus. É possível pensar sem língua? Prometo voltar a esse assunto em breve, mas, resumindo, posso dizer que, nós, seres humanos, somos dotados de uma habilidade ímpar denominada Linguagem. A Linguagem, Lógos em grego, é o que nos permite interagir com o mundo, é o que me faz acreditar que, se me puser de pé, o chão me servirá de base, que o objeto que vejo em cima de uma mesa pode ser palpado se estiver ao alcance de minhas mãos, que um sibilar na mata pode significar que uma cobra está a espreita. A Linguagem é inata, e não há como nos desvencilhar dela - ela é condição sine qua non para a vida. Num âmbito agora cultural, social, existe a língua, ligada diretamente ao grupo social em que estou inserido. A língua me permite pura e simplesmente comunicar com outros que partilham do mesmo meio social. A pergunta é: onde estaria o pensamento? Primordialmente na linguagem, ou apenas na língua? Se a resposta for a primeira, isso quer dizer que a lógica independe de rótulos, ou seja, é possível pensar sem palavras. Se a resposta, no entanto, for a segunda, a isso equivale dizer que só podemos pensar porque conhecemos: 1. os rótulos dos pensamentos (das palavras que os formam) e 2. as estruturas lógicas que podem ser formuladas a partir dos sistemas das línguas humanas. A tese de Abentofail é a de que o pensamento reside na Linguagem, é tão primordial e inato quanto ela. Abentofail estava certo? Deixo minha resposta para outro dia.
A segunda interpretação, um pouco mais ética e moral, tem a ver com o fato de Hay ter chegado a Deus. Abentofail sugere, com isso, que fé e lógica não são, como diz meu amigo Pablo, como duas mulheres do mesmo homem - quando se agrada uma, entristece-se a outra. Através da lógica também é possível chegar à fé. Pelo contrário, através do emprego da boa razão e da boa fé é possível, segundo o filósofo Andaluz, chegar ao mesmo destino.
Hay é o "Robinson metafísico", segundo Borges, justamente por estas duas razões - ele é um solitário eremita que, sem língua, sem civilização, tece pensamentos cada vez mais complexos, até que chega à fé, à crença naquilo que não se vê. É um Robinson Crusoé meio-oriental muito mais complexo filosoficamente e esquecido pela tradição ocidental.
Gostaria de saber o que meus leitores pensam sobre o texto de Abentofail. Se quiserem, escrevam comentários com suas interpretações. Todas as opiniões serão bem-vindas.
Desenho no começo do post: Hay observando os astros. Autor desconhecido.
Grande abraço,
Rafael Lanzetti
Thursday, August 2, 2007
Estrada de Ferro Lanzetti Railway Co.
Descrevo aqui detalhes da construção e da forma final (temporária) da minha maquete de ferreomodelismo em escala HO (1:87). Para você que não sabe nada de ferreomodelismo e gostaria de aprender, recomendo a leitura da página da Sociedade Brasileira de Ferreomodelismo: http://www.sbf.rec.br/sbf_1/ferreo.html
1. Planejamento da maquete
Fiz o planejamento do traçado no computador, mas sem usar nenhum programa especial, usando o Paint mesmo. Na verdade, o que fiz foi pegar o traçado da Frateschi A+B+C (http://www.frateschi.com.br/produtos/hobby_trilho.php) e acrescentar uma linha externa, além de elaborar um pouco mais as opções de manobra. O traçado ficou assim:
Essa era a idéia inicial. Aquela bola preta representa um virador de locomotivas. É um traçado bem simples, mas eu queria adicionar relevo, túnel e lago, e não sabia o que me esperava, porque não é tão fácil suspender uma linha apenas se há linhas tão perto correndo em paralelo. A lógica da maquete seria esta: 3 linhas independentes, duas de carga e uma de passageiros. A linha de passageiros (interna) transitaria entre duas estações - A e B; e para isso precisaria passar para a linha 2 (a do meio), dar mais algumas voltas, passar para a linha 3 (externa) e seguir rumo à estação B. A linha 2, com um trem cargueiro, levaria e pegaria material numa fábrica localizada em C, abastecendo comerciantes que descarregariam os vagões estacionados no pátio de manobras. Por fim, a linha 3, com outro trem cargueiro, faria o mesmo que o trem da linha 2.
O local escolhido foi o canto de uma sala de jantar com 3,60m de largura, o que me proporcionou certa mobilidade durante a montagem, e foi bem útil. O inconveniente desse canto da sala é a janela, ou melhor, a luminosidade excessiva que vem dela e atrapalha um pouco a visão da maquete, mas nada que uma cortina escura não resolva.
Em seguida, partimos (no plural porque, sem a ajuda incansável da minha esposa, a maquete não sairia) para a montagem dos trilhos sobre o tablado. Nessa fase também já pensamos em como seria o relevo e chegamos à conclusão de que a melhor opção seria suspender a linha externa, que voltaria à altitude 0 na altura do pátio de manobras, dos AMVs, para possibilitar a troca de linhas. Para o relevo, usamos e recomendamos enfaticamente o kit rampa da Frateschi, extremamente útil e fácil de montar. Ele vem com pinos de 0,5 cm montáveis e, a cada junção de trilhos, aumenta-se 0,5 cm à elevação, o que não força o motor das locomotivas e evita descarrilhamentos por elevações ou quedas acentuadas. Veja fotos:
A próxima fase era o assentamento/fixação dos trilhos no tablado. Para assentar os trilhos, a Frateschi recomenda usar folhas de cortiça. Nós descobrimos que existe um outro material bem mais flexível e que funciona perfeitamente bem para esse fim: EVA, que pode ser comprado em papelarias na cor que você desejar. Compramos folhas de EVA cinza, já para ajudar na decoração, na mesma cor das pedras de assentamento. Veja fotos dos trilhos assentados em EVA e fixados com preguinhos 5x5:
Nessa foto já é possível ver o virador assentado. Para isso, tive de fazer um furo de 23 cm de diâmetro no tablado com serra tico-tico e colar com Super-Bonder as bordas do virador no local exato onde deveria ficar (de acordo com o trilho que entra nele, vindo do pátio de manobras). Depois, assentei as outras três saídas nos locais exatos, colando a ponta dos trilhos (que ficam em cima da borda do virador) com Super-Bonder.
Para o assentamento, o ideal seria marcar todo o traçado com caneta Pilot (o que fizemos), desmontar os trilhos, colocar o EVA, pregar o EVA no tablado e, em seguida, pregar os trilhos em cima do EVA, mas... depois de todo o trilho montado, ficamos com uma preguiça imensa de desmontar tudo para, em seguida, montar tudo outra vez. Assim, fomos cortando o EVA em partes e inserindo-os por baixo dos trilhos, seguindo rigorosamente a marcação com Pilot que havíamos feito. Depois, pregamos os trilhos com cuidado simultaneamente ao EVA e ao tablado. Com um pouco de cuidado, isso pode ser feito ser problemas. O assentamento dos trilhos é talvez a parte mais importante da construção da maquete. Tivemos o cuidado de deixar os pregos com uma certa folga em relação aos dormentes para não quebrá-los e para retirar os pregos se fosse necessário. Mesmo assim, quebramos alguns poucos dormentes, o que "acaba dando um aspecto mais realista à maquete" (desculpa de gente desajeitada). É essencial que os trilhos estejam muito bem encaixados, sem folgas, para evitar descarrilhamentos. Tivemos também o cuidado de passar alguns vagões por todo o traçado para verificar se descarrilhavam ou prendiam em algum trecho. Nessa fase, também, seguindo meu esquema elétrico (do manual Ferrovias para Você Construir, da Frateschi, acrescido do esquema elétrico da linha externa, elaborado por mim), tive de retirar as talas de junção dos isolamentos. Usei talas de junção duplas de plástico flexível, bastante úteis, que comprei na MultiHobbies em Nova Friburgo(http://www.multihobbies.com.br/). Eles, aliás, têm bons preços para esse tipo de coisa. A linha suspensa (externa) não foi assentada com nada, e sim presa ao kit rampa pelas junções. Nossa idéia era assentar esses trilhos no futuro relevo.
A fase seguinte foi a instalação elétrica. É um processo simples, mas que exige uma paciência de Jó. A primeira coisa a fazer é furar o tablado próximo aos AMVs, isolamentos e pontos de energização das linhas. Só para vocês terem uma idéia da confusão de fios (ainda não fixados) por baixo do tablado:
Como sou aeromodelista, estou já careca de descascar e soldar fios, mas esse processo deve ser feito com o máximo de cuidado, pois são as soldas que vão definir se sua maquete vai "funcionar" ou não. A Frateschi recomenda os conectores Sindal, mas (novamente) como aeromodelista, o único conector em que confio é o DEANS, mas são caros demais. Então achei melhor apenas estanhar os dois fios e soldá-los um ao outro. E funciona perfeitamente bem. Com qualquer outro conector, a perda de energia é muito grande.
Para a instalação elétrica, é essencial que haja uma certa organização de fios, e nisso as cores diferenciadas ajudam bastante. É bom também que os fios sejam fixados em baixo do tablado, sem barrigas. Segundo os meus cálculos, eu devo ter usado mais ou menos 170 metros de fios.
A pergunta seguinte a se fazer é: onde será o meu painel de comando? Nós optamos por não colocá-lo fora do tablado, mas inseri-lo num canto da maquete:
Posteriormente, um pano será colocado na frente desses fios caídos para escondê-los. Decidimos colocar o painel de controle no próprio tablado para poupar trabalho e principalmente espaço; e para inseri-lo no cenário da maquete, já que até o painel foi posteriormente cercado de grama. A partir da primeira foto, da direita para a esquerda: os controles dos desvios, os controles de energização das saídas do virador e o controle do virador, as chaves liga-desliga dos isolamentos e os controladores das linhas 1, 2 e 3.
Depois da instalação elétrica, que me consumiu uma jornada de 10 horas quase ininterruptas, e depois dos testes com locomotivas e vagões, precisamos fazer alguns ajustes - um descarrilhamento que precisa ser evitado aqui, uma solda mal-feita ali, um desvio quebrado, um isolamento que insistia em não funcionar, entre outros. Aqui entra a paciência. Com ela, tudo se resolve. Sem ela, a maquete não sai.
Próxima fase: construção do relevo. Das várias técnicas existentes, resolvemos que seria mais prático fazer o relevo com gesso. Para isso, amassamos folhas de jornal e as colocamos nos locais onde planejamos o relevo, colocamos, por cima do jornal amassado, folhas de jornal molhadas e, por cima dessas, gesso. O contorno que obtivemos com o jornal ficou muito bom e o gesso é um material bastante prático de se trabalhar - e seca rápido. Vejam fotos:
É preciso ter cuidado apenas com a altura desejada do relevo, pois o gesso pesado afunda a camada de jornal. Se você quer fazer uma montanha relativamente alta, não economize em jornal. Essa fase (e todas as outras, devo dizer) foi liderada pela minha esposa, que tem muito mais tino pra esse tipo de coisa que eu.
No outro extremo da maquete, uma montanha maior foi feita para receber o túnel. A base do túnel foi feita de isopor de 5 mm pregado com os mesmos preguinhos do assentamento dos trilhos:
Em seguida, por cima disso, colocamos mais jornal e mais gesso, até chegarmos ao formato da montanha desejado (aproveitamos também para fixar os portais do túnel):
Uma coisa que poderíamos e deveríamos ter feito nessa fase era pintar de preto o interior do isopor para dar a idéia de escuridão dentro do túnel. Agora já era...
Comprei um frasco de resina acrílica e... desastre! Que ingenuidade. A resina acabou totalmente com o depron (infelizmente, no calor da decepção, esqueci de tirar fotos do sinistro).
2a tentativa: fazer o fundo do lago com madeira:
Em seguida, acreditando que a viscosidade da resina dispensava uma vedação do fundo do lago, tasquei resina e... ela escorreu toda pro chão. Chegamos à conclusão de que a resina acrílica não era a substância adequada. Fomos à loja de tintas e descobrimos que existe uma resina poliéster, usada para colar fibras. Essa sim, seria a adequada. É um líquido relativamente translúcido (meio amarelado) que vem com um conta-gotas de líquido catalizador para fazê-lo endurecer. Aí sim, a coisa deu certo:
A aparência da resina é bem parecida com a de água. Tivemos o cuidado de, dessa vez, vedar o fundo do lago com tinta e serragem, além de pintar o fundo do lago de azul claro, para dar uma cor à resina (já que não conseguimos encontrar uma tinta que diluísse na resina, nem mesmo corante poliéster). Mas... horas depois de seca, a resina começar a ficar dura demais, e o aspecto de água começou a se perder. No momento, estou pesquisando meios de melhorar a aparência desse lago. A saga do lago ainda não acabou.
Bom, continuando com a construção, agora já na fase de decoração da maquete, pegamos serragem com o marceneiro que fez o tablado, peineiramos para usar apenas a serragem mais fina, tingimos com tinta xadrez em pó (um processo bastante simples, basta colocar a serragem num saco plástico, acrescentar a tinta e chacoalhar), e fomos colando na superfície do tablado com uma mistura de 50% de cola branca e 50% de água:
As montanhas foram pintadas de verde (mas de uma tonalidade meio azulada, fomos enganados pela cor na lata da tinta), e também cobertas com grama (com uns retoques de tinta cor cinza):
O passo seguinte foi a colocação das pedrinhas. Usamos pedrinhas de aquário bem pequenas de cor cinza claro e escuro, muito mais baratas que os saquinhos de pedra vendidos pela Minitech e pela Frateschi e de mesmíssimo efeito estético:
O processo de empedramento das linhas é meticuloso e demorado. É aconselhável empedrar as linhas apenas depois de todo o resto pronto, depois de garantir que os trens estão rodando bem e não há falhas elétricas. Retirar um segmento de trilho empedrado sem quebrá-lo é um trabalho hercúleo. As pedras são coladas em volta da linha da mesma forma que a grama, mas a atenção deve ser redobrada para a parte de dentro dos trilhos - nenhuma pedrinha deve enganchar nos vagões ou locomotivas. Nos AMVs, o processo é ainda mais crítico. Qualquer pedra que enganche na agulha ou que barre o movimento dos trilhos nos AMVs pode fazer o trem descarrilhar. Depois de tudo colado e seco, é bom aspirar o excedente - e ter paciência para dar vários retoques depois (tanto nas pedras quanto na grama).
4. Decoração da maquete
Nossa maquete foi decorada seguindo o pensamento de que a cena retratada seria de uma rodovia no interior do Estado do Rio de Janeiro no começo da década de 60. Todas as locomotivas são a diesel, dessa época. As construções são antigas, há cavalos, bois, vacas, galinhas e porcos. A estação Eng. Passos e a plataforma coberta dão um ar interiorano à maquete. Há também uma praça com bancos, pessoas esperando o trem nas estações (sentadas e em pé), uma mulher dando milho às galinhas, três casas, postes de fio de eletricidade (feitos de linha de tecido escura), postes de luz nas estações (alimentados por uma fonte de 12v de um fone de ouvido sem fio que não funciona mais), uma torre de controle, depósito de óleo perto do depósito de locomotivas, caixa d'água, trabalhadores fazendo a manutenção de uma das linhas, fusquinhas e um fordeco, uma estrada de chão que sai da estação para as casas (feita de serragem não tingida), entre outros.
Está curioso para ver como ficou a maquete pronta? Veja aqui
5. As composições
O trem de passageiros é formado da FA-1 com os dois vagões do trem de prata (Rio-São Paulo). Os trens de carga são formados por: uma G8 com gôndolas de minério, as G22U com o restante dos vagões, divididos em fechados e com substâncias (frigorífico e óleo). Padronizei que, pelo tamanho da maquete e devido às restrições de manobra, cada composição terá no máximo 5 vagões. Uma das locomotivas, geralmente a G22U RFFSA Fase II fica estacionada no depósito de locomotivas, substituindo eventualmente a locomotiva que faz o trajeto da linha externa com relevo, para poupar um pouco o motor. Vagões sobressalentes ficam estacionados no pátio de manobras até serem acoplados às composições em movimento.
6. A operação da maquete
O trem de passageiros dá algumas voltas na linha interna e pára depois do AMV que leva à estação Eng. Passos. Vai de ré até a estação e pega os passageiros. Dá mais algumas voltas pela linha interna. A composição de carga da linha central circula até que pára no isolamento perto do lago. A composição de carga da linha externa (com relevo) circula até que pára no isolamento da estação Central (plataforma coberta). O trem de passageiros passa, então, para a linha 2 e, em seguida, para a linha 3. A composição de carga da linha 2 (central), sai do isolamento e volta a circular. A composição de carga da linha 3 (externa) sai do isolamento e, simultaneamente ao trem de passageiros, volta a circular. Depois de umas voltas, o trem de passageiros entra pelos AMVs que levam à estação Central e deixa os passageiros que embarcaram na estação Eng. Passos. Um processo inverso ocorre até que cada composição esteja em sua linha devida.
É isso? Terminou? Ainda não. Um ferreomodelista amigo meu diz que "o processo de construção de uma maquete de ferreomodelismo não termina nunca" (que minha esposa não leia isso...), mas já há planos para aumentar o traçado pela parede lateral até uma cidade. Aí a ferrovia será da cidade para o campo e vice-versa. As modificações mais imediatas serão acréscimos de pessoas e construções, como uma igreja com uma cena de casamento, um parque para as crianças, e algumas outras casas.
Parabéns a você que aguentou ler até aqui. Espero que essas informações possam lhe ser úteis de alguma maneira. Se você teve paciência de ler todo esse texto, já passou no teste preliminar de "espírito de Jó" para começar a construir a sua maquete. E aos ferreomodelistas que lerem este texto, peço que façam críticas/sugestões sobre minha maquete nos comentários. Todas serão bem-vindas!
Grande abraço,
Lanzetti