Em 2 horas, o keynote apresentou features consideradas "incríveis", "fantásticas", "mágicas", como bradavam em coro os espectadores online.
É inegável que as novas features do Lion, do iOS e do iCloud sejam mesmo fantásticas, mas... (e aqui entra o "[...] Espírito do Capitalismo" de Weber) as "inovações" da Maçã são, na verdade, uso capião de criações de desenvolvedores (tanto de apps aprovados pela App Store quanto jailbreakers).
Jobs já afirmou certa vez que "...o usuário nunca sabe o que quer, precisamos sempre mostrar-lhes o que querem." Depois de muito tempo, no entanto, a Maçã acabou por satisfazer as vontades dos usuários com funções imploradas desde tempos imemoriais, como um sistema de notificações mais discreto e efetivo.
Essa mudança de atitude foi, no entanto, exercida à base de cópia de APIs - tanto de outras plataformas, como Android; quanto de desenvolvedores autóctones, os que desenvolvem apps para jailbreakers. O novo sistema de notificações é baseado em vários apps do Cydia e nas notificações do Android, os updates em background já eram utilizados há muito tempo no Android (idem para os acessos rápidos à câmera e às notificações através da lock screen), o novo app de to-dos já existia em inúmeras versões, o Instapaper será substituído pela função reading list do Safari, a sincronização de fotos vai acabar com o Flickr, a sincronização de documentos vai acabar com os apps de edição de texto e apresentações (como Documents to Go, p. ex.), a sincronização de tudo vai acabar com o Dropbox, a agregação de revistas e jornais no Newsstand vai acabar com serviços como Zinio, o iMessage vai acabar com apps de mensagens instantâneas, o novo app da câmera vai acabar com muitos apps de câmeras que possibilitam edição de fotos... e por aí vai.
Para se ter uma pequena ideia do estrago, durante o keynote da Apple, quando a função Reading List do Safari foi apresentada, o desenvolvedor do Instapaper twittou apenas: "Shit."
Os desenvolvedores do Camera+, para citar outro exemplo, queriam introduzir a função de tirar foto com o botão de aumentar o volume do iPhone. A Apple negou, porque isso iria contra as regras de desenvolvimento, já que precisariam utilizar uma API privada. Sabendo disso, os desenvolvedores do Camera+ (aliás, o melhor app de câmera da App Store) "esconderam" a feature no código. Quem sabia disso, conseguia usá-la. A Apple, claro, descobriu a "falcatrua" e em dois tempos retirou o app da App Store. O app ficou muito tempo fora do ar. Na 2a feira, o que fez a Maçã? Apresentou o novo app de câmera com a função de tirar fotos com o botão de aumentar o volume!
A pergunta que definirá de vez o caráter maligno da Apple é: essa API estará à disposição dos desenvolvedores daqui em diante ou será exclusiva do app de câmera nativo?
Obviamente não vou deixar de ser um grande admirador da Apple e de seus produtos por conta dessas coisas, mas o impacto para os desenvolvedores dos apps envolvidos será muito grande, disso tenho certeza. Aí se desmascara o verdadeiro capitalismo selvagem - as estratégias maquiavélicas de se chegar ao poder.
O mundo é dos espertos que têm dinheiro e prestígio. Para se chegar lá, não basta ser capaz e eficiente, há de haver uma rara conjunção de aleatoriedades que permitam com que a pessoa progrida. Para se manter no topo, é preciso aproveitar-se dos mais frágeis, incorporando grandes ideias e humilhando as ruins, assim desmoralizando o inimigo.
A Apple - e mais especificamente a figura de Steve Jobs - sabe fazê-lo como talvez nenhuma outra empresa no mundo de hoje o saiba.
O keynote da Apple na WWDC 2011 foi uma grande sacanagem com muita gente, mas que foi fantástico, isso foi.
Abraço,
Rafael Lanzetti
Adendum: Retirado de http://www.engadget.com/ em 10.06.2011:
Wi-Fi Sync developer says he was 'fairly shocked' by Apple's similar Wi-Fi Sync feature
Wirelessly syncing a smartphone is hardly a new idea, but the developer of the Wi-Fi Sync app for iOS devices apparently thinks Apple's similar new feature in iOS 5 -- also called Wi-Fi Sync --is just a little too close to his for comfort. As you may recall, Greg Hughes submitted his "Wi-Fi Sync" app to Apple for App Store approval back in May of 2010 and was ultimately rejected, although not before he says he was told that Apple's engineers were "impressed" by his effort -- he then made the app available in the Cydia store, where it's been downloaded more than 50,000 times at $10 a pop. That was apparently working out just fine for him until this week, when he says he was "fairly shocked" to see Apple announce a Wi-Fi Sync feature of its own in iOS 5, complete with a familiar looking icon. Hughes went on to tell The Register that he was "surprised" by the similarities, but he hasn't offered any indication that he plans to push the issue any further.