Estou ficando cada vez mais assustado com o que tenho lido e ouvido sobre o custo de vida no Rio e em São Paulo. Aluguéis de quatro dígitos, apartamentos de 30 milhões, iogurte de dez reais, pipoca em show de rock por 30, e daí pros ares.
Moro em Hamburgo, Alemanha, num apartamento alugado. Aqui não há luxo, a não ser para os muito ricos. O prédio não tem elevador, não tem porteiro, não tem faxineiro. Cada um varre a sua cota de escada e cuida das lâmpadas queimadas na sua parte do corredor. Viver num condomínio de classe média no Brasil, com porteiro, 2 elevadores por bloco, delivery 24 horas, piscina, sauna, área de lazer e afins é um sonho impossível para 95% dos alemães. Viver no Brasil é infinitamente mais confortável. Será?
Quando boto o pé pra fora do meu apartamento, a Alemanha começa a ficar mais atraente. Em primeiro lugar, não preciso trancar a porta, simplesmente fecho-a e vou-me. Ao sair do prédio, um ponto de ônibus com um placar eletrônico dizendo quantos minutos o próximo no. 25 vai demorar para chegar. Pego o ônibus, salto 15 minutos depois na estação de metrô. Quando chego, o metrô está me esperando para sair (os horários são coordenados). Dez minutos depois, chego à estação onde tenho que saltar. Um minuto depois, estou no meu local de trabalho. O valor do transporte é descontado de meu salário mensalmente - o que me permite pegar qualquer meio de transporte, quantas vezes quiser (e não há roletas). Se fico doente, vou imediatamente ao médico. Os exames e remédios estão incluídos no valor que pago pelo seguro de saúde.
Durante muitas décadas, o custo de vida nos países europeus foi visivelmente maior que na América do Sul; agora, as coisas estão gradativamente mudando de figura.
Meus gastos com contas diversas e moradia aqui são mais ou menos os mesmos que tinha no Brasil no ano de 2009. Com transporte, gasto menos da metade do que gastava no Brasil. No supermercado, o gasto fica mais ou menos pela metade. Os produtos eletrônicos nos custam aqui por volta de metade (por vezes menos) do que custam no Brasil (e isso para um nerd é fator crucial para determinar qualidade de vida).
Aqui, pago impostos muito altos (para o padrão europeu) que correspondem a mais ou menos 3/4 dos impostos que pagava no Brasil. Em troca, no entanto, transporte e saúde de alta qualidade, além de segurança, ordem pública, opções de lazer (gratuitas) e condições de viajar com muito mais frequência, já que os preços de passagens aéreas e estadia por aqui são, em média, metade do que se paga no Brasil.
Sabem por que o brasileiro tolera esse tipo de absurdo? Porque, infelizmente, o brasileiro médio não tem condições de passar 3 meses na Europa para comparar qualidade de vida, de serviços prestados e relação entre custo e benefício de se morar por aqui. A revolta verdadeira só pode ser sentida por aqueles que afortunadamente tiveram essa chance de atravessar o Atlântico.
É claro que meu argumento está baseado nas atuais condições da Alemanha que, diga-se de passagem, são bem diferentes de conjunturas de outros países na Europa, principalmente os de economia deficitária.
Mas a pergunta que permanece é esta: vale mesmo a pena morar no Brasil?