Thursday, May 10, 2007

Polipoiésis?! Isso morde?

Caríssimos leitores de tão humilde blog,

é de se esperar que um nome deveras estapafúrdio tenha alguma explicação que seja. Não o criei, verdade, mas antes os helênicos, criadores do pensar ocidental. Vamos à explanação semantico-etimológica:

"poli" em grego é um prefixo que quer dizer "muitos", como em "polígono", muitos lados, e "poliondas", muitas ondas (aquela pastinha onde se guarda papel inútil porque já é muito fora de moda para se usar na rua). Favor não confundir com "pólis", cidade; como em "política", a organização da cidade, e "soteropolitano", cidadão da cidade de Salvador ("soterós" em grego).

Logicamente estou falando aqui do grego clássico, o grego em que foram compostas as épicas Ilíada e Odisséia (lição número hum - nunca grafe títulos de obras entre aspas, prefira sempre o itálico), ambas por autores desconhecidos. Desconhecidos? Ué, mas o prof. Epaminondas da Faculdade de Letras da Universidade Federal da Praça Mauá havia me dito, no meu tempo de literatura grega, que tais obras foram escritas por Homero!

Já vamos nós fugir do assunto... Bem, Homero, do grego "Ho me ros", traduzindo, "o que não enxerga", pois sua figura mitológica era de um velho cego, pode nunca ter existido. Era um mito, certamente. Para que entenda essa minha proposição, "era um mito", você precisa entender o que é um "mito", mas isso eu deixo para um outro dia. Sendo mitológico, embora original, Homero pode ter sido, mera e simplesmente, a personificação do folclore grego na era clássica. Falando nisso, o que é folclore? Será que Tróia e a Guerra Helênica ocorreram de facto? Estas duas últimas eu também vou deixar para um outro dia, o que não passa de um recurso novelístico para arregimentar leitores sistemáticos. Voltando ao tema deste parágrafo: os bardos, cantadores clássicos e medievais, com seus instrumentos (liras e flautas na era clássica; e principalmente alaúdes na medieval), repetiam ad nauseam a lírica que fazia o gosto do freguês. Pois bem, à época de Homero, se é que existiu, centenas, senão milhares de bardos cantarolantes perambulavam pelos burgos e reinos helênicos, em Creta, no Peloponeso, nas Ilhas, para, em troca de comida e/ou mulheres, bebida e fama, entreter os palacianos com suas mirabulantes estórias.

Assim, pois, a Ilíada e a Odisséia, que tratam, respectivamente, dos acontecimentos políticos e militares peri-guerra de Tróia, introduzindo seus heróis aqueus; e da penosa volta de Ulisses a Ítaca, sua ilha-natal, descobrindo finalmente que sua mulher não tinha dado pra ninguém enquanto guerreava (por isso é um mito, capisci?) [continuando o período que tem como sujeito composto "A Ilíada e a Odisséia"] tornaram-se as estórias mais interessantes e louvadas da Grécia Clássica.

Agora, voltando a um assunto anterior: por que cargas d'água você, ó blogueiro, afirmou que Homero pode não ter existido (atenção para o pode, may, mag)? Veja bem, meu leitor, existem algumas evidências de que Homero ou era mesmo cego e tapado, desleixado e desorganizado ou não existiu mesmo: em alguns Cantos (os poemas, de até 15 mil versos, vejam só; e todos eram recitados de cor pelos bardos [que mnemotécnica!] eram divididos em Cantos, não em capítulos) retratam, por exemplo, a composição metálica do escudo do herói Aquiles - ferro, bronze, ouro etc. em uma determinada ordem. Já num outro Canto, a ordem da composição era completamente trocada. Homero não anotava as informações de que precisaria se lembrar mais à frente no texto? Era desleixado? Ou simplesmente não existiu? Se Homero não existiu mesmo, os bardos, logicamente, não poderiam decorar tudo aquilo... Como se diz, "quem conta um conto, aumenta um ponto". Assim, a cada vez que a estória era contada, alguma coisa era alterada, mudada, adaptada. Imaginem vocês centenas de bardos, em partes diferentes do mundo helênico, declamando os versos com alterações pessoais. No final, o que se tinha do original? E, falando nisso, que original? Quem compôs? Homero escreveu o que compôs? Homero existiu de se pegar?

Ainda, quando o poema foi escrito, logo que a Grécia já dispunha de uma língua escrita, a versão que se retratou em papiro foi qual? Não há originalidade aqui, há um palimpsesto. Um o quê? Calma, ainda vou escrever sobre isso também...

Uff, até agora já falei sobre metade do título do Blog, a metade do "poli". Vamos ao "poiésis", preparem-se para mais 30.000 palavras...

O verbo "poiein" em grego quer dizer simplesmente "fazer". Era usado para retratar o trabalho dos artesãos, dos oleiros ("poetés"). Fazer um vaso era como compor um poema. Isso mesmo, para o grego, o poeta era um artesão, seu trabalho, a partir do esforço, e não da inspiração divina, tinha como produto um poema. O poeta era mais um "demioúrgos", palavra que englobava, numa única categoria, carpinteiros, médicos, músicos, artesãos e... poetas. Fazer, então, para o grego, significava transformar a natureza tangível e intangível a fim de tornar disponíveis materiais, produtos, serviços e arte.

Este blog, assim, chama-se Polipoiésis por um único motivo: nele, falarei sobre minhas atividades, as coisas de que gosto, tanto pragmáticas quanto poéticas.

Sou professor, ensino linguística, tradutologia, música. Sou estudioso de línguas estrangeiras, latinas, germânicas, grega e semíticas. Sou músico, toco piano, saxofone, flauta doce, escaleta. Sou mágico, faço close-up e mágicas de palco. Sou modelista, aero, auto, nauti e ferreo. Aprecio boa literatura e boa música.

O Polipoiésis tratará certamente de todos esses assuntos supracitados, um por vez, para não encher o saco do leitor.

Por hoje é só, se você aguentou ler até aqui, minhas sinceras congratulações.

Até a próxima,

Lanzetti

8 comments:

Bruno Barcellos "Gallahad" said...

Muito Bom Lanzeti, já ganhou um fã, amo filosofia, adorei o texto, as respostas que se transformam em perguntas, como nas primeiras aulas, ou nas primeiras páginas de um livro de filosofia :). Sempre que puder apareço aqui!!

Magicordialmente!!!

Ps: desculpa a outra postagem, eu a exclui pra consertar um erro, mas não queria poluir seu blog, pensei que a exclusão não fosse aparecer :(

Rafael Lanzetti said...

Muito obrigado pelo apoio, Gallahad, companheiro de fórum! Volte sempre!

Abração,
Lanzetti

Anonymous said...

Caro,

parabéns pelo texto e pelo blog.
Espero conversar aqui sobre várias coisas, mas principalmente música. Gostaria de voltar a estudá-la, mas por enquanto, só dá pra que fiquemos a conversar sobre ela...

Anonymous said...

Eita! Eu já ia perguntar o que era "Polipoiésis", hehehe... Ainda bem que nem foi preciso! xP

Ah, gostei do Blog! Muita coisa interessante... Bastante conteúdo! Vai ser um sucesso! (não tô puxando saco, ok? ¬¬')

abs! =D

Fabricio Yuri said...

Boa Lorenzetti! Como diria o Cid Moreira, este amigo aqui está 'de olho' no 'pólipo'!

Grande abraço!

fabyuri

Anonymous said...

Como diria o Mussum, CACILDIS! Esse negócio de mágica é coisa séria mesmo...
Valeu, cara. Voltarei para ler mais a respeito.

Rafael Lanzetti said...

Obrigado a todos pelos comentários! Passem por aqui sempre que puderem!

Abraço,
Lanzetti

Marcos AM Ramos said...

Fala, meu ídolo! Agora pude parar pra ler teu blog e postar meus comentários. Voltarei sempre.
Grande abraço