Olá a tod@s,
muito obrigado por prestigiarem tão humilde blog. Vamos ao trabalho:
O tema de hoje é... mágica e psicologia. Que relação há entre as duas coisas? Bem, antes de dizer qualquer coisa, faça o seguinte: assista a este vídeo no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=voAntzB7EwE
Assistiu? Quantos "color changes" você conseguiu perceber? Seja honesto. Poste um comentário dizendo-me o resultado.
Entonces, o que vimos aqui? A aplicação de um conceito psicológico à mágica - o misdirection. Atenção: antes que meus companheiros mágicos que lêem este blog queiram me enforcar por exposure, deixem-me dizer duas coisas, uma para os leigos em mágica e outra para os mágicos.
Coisa número 1: Exposure, cuja tradução é exposure (mágicos gostam de usar nomes anglófonos, por uma razão que vou descrever um outro dia) é a prática de exposição de técnicas e segredos mágicos ao público leigo, o que pode ser inclusive caracterizado como crime. Crime? Sim, basta pensar que, quando alguém revela um segredo mágico, está desmoralizando e prejudicando, inclusive financeiramente, uma classe de trabalhadores artistas que passam anos de suas vidas estudando e treinando as mais diversas técnicas e abordagens mirabolantes, desenvolvendo prestidigitação, além da capacidade de lidar com um público cada vez mais exigente (não é tão fácil fazer mágica hoje quanto era no tempo dos meus pais. Por que será...?). Quando um rapaz chamado Leonard Montano, mais conhecido como Mister M., resolveu aceitar um convite da rede televisiva Fox para revelar segredos mágicos centenários (com a desculpa idiota de que estava "promovendo a arte mágica". Veja mais em http://bennyhills.fortunecity.com/candy/487/misterm4.htm), o que conseguiu fazer, na verdade, foi desmoralizar centenas, senão milhares de mágicos em todo o mundo, que ganham o seu pão fazendo apresentações em festas infantis, em eventos, grandes ou pequenos. Você pode imaginar a cara com que fica um mágico quando, durante um número, uma criança sai gritando para todo mundo "Ah, essa eu sei, ele faz isso e isso e aquilo outro..."? Pois é, já aconteceu comigo, já aconteceu com a maior parte dos mágicos que conheço. Culpa de gente como o Mister M. Pois bem, o tal sr. Montano foi processado por associações mágicas de Belo Horizonte e do Sul, que ganharam causa, pois os juízes entenderam que aquele programa prejudicava profissionalmente essa tão querida classe de artistas. Nossa vingança é que, hoje, todos se lembram de ao menos uma grande mágica do David Copperfield, por exemplo. Quem é que se lembra de um segredo que o Mister M. revelou? No entanto, atualmente, com as mídias a que temos acesso a qualquer hora do dia e da noite, de modo completamente descontrolado, é muito fácil encontrar segredos mágicos guardados há gerações. Tanto, que muitos mágicos estão deixando de usar aparelhos tão aclamados e que produzem efeitos extraordinários (como o TT, quem é mágico sabe do que estou falando) porque tanta gente já o conhece que seu uso tem se tornado impraticável. E isso é exposure.
Coisa número 2: Companheiros mágicos, não se preocupem se trato aqui do misdirection, pois esse conceito não é, infelizmente, nosso. É um conceito psicológico, ligado aos estudos de atenção e concentração. Foi criado muito antes de ser utilizado em mágica. Ainda, mesmo sabendo o que seja, não precisamos nos preocupar nem um pouco com isso, digo por experiência própria. Se o vídeo do link estivesse no final do post, depois de toda a explicação, mesmo assim - podem crer - ninguém veria nada.
Voltando ao assunto principal - misdirection: como o nome já diz, o referido é uma técnica de fazer com que seu espectador, ou mesmo leitor, volte sua atenção para um outro lugar, enquanto o esperto locutor, escritor, mágico, o que seja, utiliza técnicas para esconder o que não pode ser visto. O misdirection é utilizado na mágica para se fazer com que o espectador, por exemplo, olhe para uma mão do mágico enquanto, com a outra, o artista "faz a mágica acontecer". Mas não se iludam - a variedade de técnicas com que o fazemos é tão grande que, se bem aplicadas, nem o melhor dos observadores vê o que não deveria ser visto, como no caso do vídeo lá em cima.
Isso me faz pensar em duas coisas principais:
1. O ser humano é sugestionável, e muito. Um bom mágico faz a mágica acontecer na cara do espectador, um político eloquente profere os maiores absurdos na cara dos ouvintes, o bom vendedor consegue vender o pior dos produtos - e todos esses profissionais safam-se maravilhosamente. A sugestão, por meio da oratória, da eloquência, dos sofismas e, principalmente, das falácias (também tema de um outro post), é, a meu ver, a grande responsável pelo desenrolar da história humana.
2. O ser humano só consegue prestar atenção a uma coisa de cada vez. Será? O vídeo prova que sim. Mas não será porque, por misdirection, as atenções foram voltadas para onde se queria? Como será, então, que dirigimos? Quando dirigimos um veículo, precisamos, por vezes, olhar para frente e para os lados, quando não também para trás, ao mesmo tempo. Um intérprete simultâneo precisa, de sua cabine, prestar atenção ao que está sendo dito em língua estrangeira pelo palestrante e, simultaneamente, ao que está traduzindo em sua língua materna. Será que conseguimos mesmo fazer tal coisa? E, por último, será que essa falta de capacidade de prestar atenção a múltiplas coisas simultâneas é essencialmente ruim? Você já pensou se fosse capaz de prestar atenção a várias conversas ao mesmo tempo? Seria o paraíso das mulheres. Já pensou se você, menina, fosse capaz de falar com 3, 4 amigas ao mesmo tempo ao telefone - sobre coisas diferentes? Ui.
As perguntas estão aí. Onde estarão as respostas?
Ah, já ia me esquecendo, por falar em mágica, existem muitas modalidades diferentes dessa arte tão nobre: a cartomagia (mágica com baralhos), o mentalismo (a propriedade que têm os mágicos de saber o que os espectadores estão pensando ou antever um acontecimento futuro), o close-up (a mágica feita perto do espectador, com objetos diversos), a mágica de salão/palco (exige que o mágico possua aparelhos maiores, que não podem ser carregados em uma mala de close-up), e as grandes ilusões, como as do David Copperfield e suas levitações e desaparições da Estátua da Liberdade e afins. Para ser mágico, o camarada (por que não "a" camarada? Por que existem tão poucas mágicas mulheres? Mais um tema para tópico futuro) precisa ler muito, assistir a muitos cursos em vídeo, treinar muito e ser leal ao código de ética dos mágicos, basicamente este:
1. Nunca repetir uma mágica na mesma ocasião;
2. Ser ético com outros mágicos;
3. Saber lidar com seu público, mesmo com os chatos...
e
4. Nunca revelar seus segredos. Quem o faz, não é mágico, pode ter certeza disso.
Amigos, moral da história de hoje: CUIDADO COM O MISDIRECTION, não do mágico, pois ele só quer entretê-lo, maravilhá-lo com a saudável fantasia da arte; mas o do político, do vendedor, do presidente, das instituições, da TV, da escola e do seu chefe. Cuidado.
Grande abraço,
Rafael Lanzetti
muito obrigado por prestigiarem tão humilde blog. Vamos ao trabalho:
O tema de hoje é... mágica e psicologia. Que relação há entre as duas coisas? Bem, antes de dizer qualquer coisa, faça o seguinte: assista a este vídeo no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=voAntzB7EwE
Assistiu? Quantos "color changes" você conseguiu perceber? Seja honesto. Poste um comentário dizendo-me o resultado.
Entonces, o que vimos aqui? A aplicação de um conceito psicológico à mágica - o misdirection. Atenção: antes que meus companheiros mágicos que lêem este blog queiram me enforcar por exposure, deixem-me dizer duas coisas, uma para os leigos em mágica e outra para os mágicos.
Coisa número 1: Exposure, cuja tradução é exposure (mágicos gostam de usar nomes anglófonos, por uma razão que vou descrever um outro dia) é a prática de exposição de técnicas e segredos mágicos ao público leigo, o que pode ser inclusive caracterizado como crime. Crime? Sim, basta pensar que, quando alguém revela um segredo mágico, está desmoralizando e prejudicando, inclusive financeiramente, uma classe de trabalhadores artistas que passam anos de suas vidas estudando e treinando as mais diversas técnicas e abordagens mirabolantes, desenvolvendo prestidigitação, além da capacidade de lidar com um público cada vez mais exigente (não é tão fácil fazer mágica hoje quanto era no tempo dos meus pais. Por que será...?). Quando um rapaz chamado Leonard Montano, mais conhecido como Mister M., resolveu aceitar um convite da rede televisiva Fox para revelar segredos mágicos centenários (com a desculpa idiota de que estava "promovendo a arte mágica". Veja mais em http://bennyhills.fortunecity.com/candy/487/misterm4.htm), o que conseguiu fazer, na verdade, foi desmoralizar centenas, senão milhares de mágicos em todo o mundo, que ganham o seu pão fazendo apresentações em festas infantis, em eventos, grandes ou pequenos. Você pode imaginar a cara com que fica um mágico quando, durante um número, uma criança sai gritando para todo mundo "Ah, essa eu sei, ele faz isso e isso e aquilo outro..."? Pois é, já aconteceu comigo, já aconteceu com a maior parte dos mágicos que conheço. Culpa de gente como o Mister M. Pois bem, o tal sr. Montano foi processado por associações mágicas de Belo Horizonte e do Sul, que ganharam causa, pois os juízes entenderam que aquele programa prejudicava profissionalmente essa tão querida classe de artistas. Nossa vingança é que, hoje, todos se lembram de ao menos uma grande mágica do David Copperfield, por exemplo. Quem é que se lembra de um segredo que o Mister M. revelou? No entanto, atualmente, com as mídias a que temos acesso a qualquer hora do dia e da noite, de modo completamente descontrolado, é muito fácil encontrar segredos mágicos guardados há gerações. Tanto, que muitos mágicos estão deixando de usar aparelhos tão aclamados e que produzem efeitos extraordinários (como o TT, quem é mágico sabe do que estou falando) porque tanta gente já o conhece que seu uso tem se tornado impraticável. E isso é exposure.
Coisa número 2: Companheiros mágicos, não se preocupem se trato aqui do misdirection, pois esse conceito não é, infelizmente, nosso. É um conceito psicológico, ligado aos estudos de atenção e concentração. Foi criado muito antes de ser utilizado em mágica. Ainda, mesmo sabendo o que seja, não precisamos nos preocupar nem um pouco com isso, digo por experiência própria. Se o vídeo do link estivesse no final do post, depois de toda a explicação, mesmo assim - podem crer - ninguém veria nada.
Voltando ao assunto principal - misdirection: como o nome já diz, o referido é uma técnica de fazer com que seu espectador, ou mesmo leitor, volte sua atenção para um outro lugar, enquanto o esperto locutor, escritor, mágico, o que seja, utiliza técnicas para esconder o que não pode ser visto. O misdirection é utilizado na mágica para se fazer com que o espectador, por exemplo, olhe para uma mão do mágico enquanto, com a outra, o artista "faz a mágica acontecer". Mas não se iludam - a variedade de técnicas com que o fazemos é tão grande que, se bem aplicadas, nem o melhor dos observadores vê o que não deveria ser visto, como no caso do vídeo lá em cima.
Isso me faz pensar em duas coisas principais:
1. O ser humano é sugestionável, e muito. Um bom mágico faz a mágica acontecer na cara do espectador, um político eloquente profere os maiores absurdos na cara dos ouvintes, o bom vendedor consegue vender o pior dos produtos - e todos esses profissionais safam-se maravilhosamente. A sugestão, por meio da oratória, da eloquência, dos sofismas e, principalmente, das falácias (também tema de um outro post), é, a meu ver, a grande responsável pelo desenrolar da história humana.
2. O ser humano só consegue prestar atenção a uma coisa de cada vez. Será? O vídeo prova que sim. Mas não será porque, por misdirection, as atenções foram voltadas para onde se queria? Como será, então, que dirigimos? Quando dirigimos um veículo, precisamos, por vezes, olhar para frente e para os lados, quando não também para trás, ao mesmo tempo. Um intérprete simultâneo precisa, de sua cabine, prestar atenção ao que está sendo dito em língua estrangeira pelo palestrante e, simultaneamente, ao que está traduzindo em sua língua materna. Será que conseguimos mesmo fazer tal coisa? E, por último, será que essa falta de capacidade de prestar atenção a múltiplas coisas simultâneas é essencialmente ruim? Você já pensou se fosse capaz de prestar atenção a várias conversas ao mesmo tempo? Seria o paraíso das mulheres. Já pensou se você, menina, fosse capaz de falar com 3, 4 amigas ao mesmo tempo ao telefone - sobre coisas diferentes? Ui.
As perguntas estão aí. Onde estarão as respostas?
Ah, já ia me esquecendo, por falar em mágica, existem muitas modalidades diferentes dessa arte tão nobre: a cartomagia (mágica com baralhos), o mentalismo (a propriedade que têm os mágicos de saber o que os espectadores estão pensando ou antever um acontecimento futuro), o close-up (a mágica feita perto do espectador, com objetos diversos), a mágica de salão/palco (exige que o mágico possua aparelhos maiores, que não podem ser carregados em uma mala de close-up), e as grandes ilusões, como as do David Copperfield e suas levitações e desaparições da Estátua da Liberdade e afins. Para ser mágico, o camarada (por que não "a" camarada? Por que existem tão poucas mágicas mulheres? Mais um tema para tópico futuro) precisa ler muito, assistir a muitos cursos em vídeo, treinar muito e ser leal ao código de ética dos mágicos, basicamente este:
1. Nunca repetir uma mágica na mesma ocasião;
2. Ser ético com outros mágicos;
3. Saber lidar com seu público, mesmo com os chatos...
e
4. Nunca revelar seus segredos. Quem o faz, não é mágico, pode ter certeza disso.
Amigos, moral da história de hoje: CUIDADO COM O MISDIRECTION, não do mágico, pois ele só quer entretê-lo, maravilhá-lo com a saudável fantasia da arte; mas o do político, do vendedor, do presidente, das instituições, da TV, da escola e do seu chefe. Cuidado.
Grande abraço,
Rafael Lanzetti
P.S.: Para quem não acredita que sou mágico, está aí a prova do crime - eu, com o poder da mente, levitando uma bolinha de papel:
13 comments:
Gostei muito desse texto, descobri que misdirection já existia antes... além de ser surpreendido não só pelo vídeo, mas pelõs exemplos que você deu( e qualquer coisa, se parar pra pensar.. tem misdirection envolvido!)
Abraços!!
Meu anjo, muito bom esse texto sobre o misdirection. Ainda estou assustada com não vi a mudança de cores. Cores estravagantes como o vermelho de pano de fundo. É realmente incrível como somos facilmente sugestionados. Parabéns pelo blog! Seus textos são maravilhosos e tenho certeza que todos nós vamos nos divertir bastante e principalmente aprender com a sua experiência.
Sortuda sou eu que tenho você comigo todos os dias! Babem, mas ele é meu marido!Te amo, meu anjo!
Cara, e como fazem idiotas como eu, que só queriam aprender um truquezinho básico para causar aquela impressão numa garota ou numa mesa de conversa? Eu só queria aprender a voar, dá pra me ensinar? heheheeh
Hahaha, Marcos, eu não dou pra ensinar ninguém não!
E mais: justamente por não ser um lance dos mágicos é que você não devia falar sobre isso, pois assim ninguém sequer imaginaria que usamos esta maravilhosa ferremanta.
O uso do misdirection na mágica é um segredo, concorda?
E segredos não devem ser explicados.
Concordo com o Senhora anonimo ai, Misdirection eh a maior ferramenta que o magico possui...e voce esta aki, publicamente, jogando fora...
Dai, qnd voce usar em seus shows, e nao funcionar, vai dizer que a culpa eh do youtube ou do "Exposure" na internet.
Só não sei pq o cara que criticou a sua atitude antes de qualquer outro postou como ANÔNIMO! Não gosto de covardia...
Adorei.
Também odiei nao ter percebido nada..
=)
Sou mágico, da AMSC
Associação de Mágicos
de Santa Catarina.
Obrigado, Kvrna! Passe sempre por aqui!
Covardia, penso eu, é revelar segredos profissionais.
falar sobre missdirection
não é, nem nunca foi antiético para com os magicos
tanto é q é a primeira aula na udm
se os magicos q estão reclamando aki forem bons
souberem aplicar de forma eficaz...
nenhum olho vai seguir o teu pass
magicordialmente
intiresno muito, obrigado
prezado lanzetti,
sou artista plástica e estou começando a pensar num novo projeto que irá integrar uma programção paralela à próxima bienal de são paulo. li esse texto e gostaria de me encontrar com você para conversar sobre as idéias iniciais desse projeto.
meu email é carlazaccagnini@yahoo.com.br
e o meu telefone no rio de janeiro (até dia 23 de março) é 21-22258048.
aguardo um contato seu e agradeço desde já,
carla
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