Thursday, August 2, 2007

Estrada de Ferro Lanzetti Railway Co.

Esta é para os ferreomodelistas, amantes de trens e ferrovias e curiosos/simpatizantes.

Descrevo aqui detalhes da construção e da forma final (temporária) da minha maquete de ferreomodelismo em escala HO (1:87). Para você que não sabe nada de ferreomodelismo e gostaria de aprender, recomendo a leitura da página da Sociedade Brasileira de Ferreomodelismo: http://www.sbf.rec.br/sbf_1/ferreo.html

1. Planejamento da maquete

Fiz o planejamento do traçado no computador, mas sem usar nenhum programa especial, usando o Paint mesmo. Na verdade, o que fiz foi pegar o traçado da Frateschi A+B+C (http://www.frateschi.com.br/produtos/hobby_trilho.php) e acrescentar uma linha externa, além de elaborar um pouco mais as opções de manobra. O traçado ficou assim:


Essa era a idéia inicial. Aquela bola preta representa um virador de locomotivas. É um traçado bem simples, mas eu queria adicionar relevo, túnel e lago, e não sabia o que me esperava, porque não é tão fácil suspender uma linha apenas se há linhas tão perto correndo em paralelo. A lógica da maquete seria esta: 3 linhas independentes, duas de carga e uma de passageiros. A linha de passageiros (interna) transitaria entre duas estações - A e B; e para isso precisaria passar para a linha 2 (a do meio), dar mais algumas voltas, passar para a linha 3 (externa) e seguir rumo à estação B. A linha 2, com um trem cargueiro, levaria e pegaria material numa fábrica localizada em C, abastecendo comerciantes que descarregariam os vagões estacionados no pátio de manobras. Por fim, a linha 3, com outro trem cargueiro, faria o mesmo que o trem da linha 2.

Vantagens desse traçado: é relativamente pequeno, por ser oval (3,0 x 2,0m), tem pontos de partida e destino (muitas maquetes possuem apenas uma estação, o que faz o trem dar voltas e voltas e chegar no mesmo lugar), é fácil de operar (quando cada trem está em sua própria linha) e, principalmente, permite que 3 trens circulem simultânea e independentemente (a maior parte das maquetes possui apenas 2 linhas independentes).

Problemas desse traçado: em primeiro lugar, para ir do ponto de origem ao destino, todos os trens, sem exceção, precisam mudar de linha, uma ou duas vezes, o que complica bastante a operação da maquete. Para isso, precisei instalar 5 pontos de isolamento e, fatalmente, pelo menos um dos trens precisa ficar parado para um outro poder mudar de linha. Na parte da operação da maquete explico melhor como isso funciona. Em segundo lugar, descobri que a estação em A precisaria ser deslocada, por dois motivos: 1. Não havia espaço entre a linha interna e a linha central para colocar a estação entre as duas; 2. Não queria que a estação, um dos baluartes da maquete (a estação Eng. Passos) ficasse de costas para o espectador, já que iria ter de ficar voltada para o norte. Tive, então, de adicionar mais um AMV com uma saída para a estação, como vocês poderão ver nas fotos, mas... (e na vida há sempre um mas...) o trem precisaria entrar pela estação de costas (como verão no vídeo). Não é ideal, mas é o que deu pra fazer.

Em suma, salvos os contras, gostei bastante do traçado, permitindo-me operar manobras relativamente complicadas com 3 trens rodando ao mesmo tempo, o que requer do operador uma boa dose de atenção com os AMVs, isolamentos e direção das linhas para evitar descarrilhamentos e curtos-circuitos.

Para quem está começando agora a construir a sua maquete, lembre-se: não economize tempo no planejamento, pois é, sem dúvidas, a fase mais importante da construção da maquete, é nela que você vai dar sentido àquele amontoado de trilhos e desvios. É altamente aconselhável fazer o planejamento do traçado antes de adquirir o material, para não ficar com coisa sobrando, nem faltar trilho.

2. Aquisição de material

Quase todo o material que adquiri é da Frateschi (http://www.frateschi.com.br/frateschi/frateschi.php), com exceção de alguns postes iluminados, isolamentos de plástico e outras coisinhas. Aqui reside a primeira grande questão: comprar Frateschi ou juntar dinheiro e comprar produtos importados? Bom, pra quem não conhece, a Frateschi de Ribeirão Preto é a única empresa no Brasil que produz material para ferreomodelismo. Nos fóruns e grupos de discussão de ferreomodelistas, sempre há aqueles que compõem tópicos enormes xingando o material Frateschi de tudo o que é nome, falando mal da qualidade dos produtos, da sua funcionalidade etc. Pois é, eu não sou funcionário da Frateschi e concordo com boa parte das reclamações do pessoal - de que o material tem qualidade deficiente, os trilhos oxidam com muita facilidade, que os engates são um lixo, que as locomotivas têm pouca tração etc. Mas... quando me deparo com produtos estrangeiros, como os da Atlas, por exemplo, vejo que, se comprados aqui no Brasil, custam quase 4 vezes mais que os produtos Frateschi e não têm 4 vezes mais qualidade. Em outras palavras, o custo-benefício não vale a pena. Se comprados nos EUA, podem sair com preço muito melhor, mas aí tem o problema do frete, da taxação na alfândega, da demora dos Correios. Pesando tudo na balança, prefiro mesmo o material nacional. Vou dizer aqui de que gosto e de que não gosto no material da Frateschi.
Gosto:
a) Do acabamento de locomotivas e vagões - O acabamento Frateschi possui ainda muitas falhas, mas a gente precisa admitir uma coisa: quem vê problemas de acabamento (principalmente na pintura) são os ferreomodelistas, gente por natureza minuciosa, o público leigo sempre acha que os trens são "iguaizinhos aos de verdade". E tem outra, se compararmos o acabamento Frateschi com o material americano, por exemplo, a Frateschi ganha de 3 a 0. Confiram, por exemplo, a nova C30: http://www.frateschi.com.br/produtos/c30-7.php Está, a meu ver, quase impecável.
b) Do preço do material - A Frateschi, felizmente, consegue, mesmo com relativamente pouca produção, cobrar um preço justo pelo seu material.
c) Da diversidade de locomotivas e vagões - Há muito mais tipos de locomotivas e vagões que eu conseguiria utilizar em qualquer maquete que fizesse (dentro de minhas limitações de espaço e $$$). Para o ferreomodelista "caseiro", o que constrói maquetes dentro de sua casa, o material da Frateschi é o mais indicado. Para o ferreomodelista profissional, o que constrói maquetes para exibições públicas, a história é outra.

Não gosto:

a) Dos engates - me irritam profundamente. Tive de retirar todos os engates (deixando apenas os pinos) das minhas locomotivas porque, nos desengates automáticos, não havia santo que fizesse os vagões se soltarem. Um dia trocarei todos eles por KADEE (http://www.kadee.com/htmbord/coupler.htm), caros, mas eficientes.

b) Das locomotivas a vapor - infelizmente, não rodam bem. Tive de trocar a minha por outra a diesel (todas as minhas locomotivas agora são a diesel). É uma pena, queria retratar um ambiente mais bucólico que consegui retratar, mas... o principal problema das locomotivas a vapor é que o motor fica no vagão de carvão e, à frente, a locomotiva com um truque solto sem tração, faz com que ela enganche em qualquer desnível nos trilhos e em AMVs. Confira, por exemplo, as Ten-wheelers da Frateschi: http://www.frateschi.com.br/produtos/tenwheeler.php

c) Da qualidade dos AMVs (Aparelhos de Mudança de Via, o 4200 da Frateschi: http://www.frateschi.com.br/produtos/trilhos.php) - as bobinas são muito frágeis, e queimam com facilidade. Além disso, os encaixes dos trilhos que se movem nos AMVs se quebram com facilidade e são dificílimos de consertar. Ainda, a agulha que move os trilhos é fraca demais. É preciso liberar bem a área das pedras de assentamento para que o AMV funcione adequadamente.

d) Do motor do virador de locomotivas - apesar de o virador em si ser muito melhor que o da Atlas, o motor do virador Frateschi é muito frágil. Pelo barulho que faz, mesmo depois de lubrificado, sinceramente não sei quanto tempo ele vai durar. Digo que o virador Frateschi é melhor porque é mais realista, já que é preciso fazer um furo no tablado para instalá-lo (apesar de dar um certo trabalho). O virador da Atlas é de superfície, bem irreal.

e) Do protetor de desvios - é seguro? Sim, protege as bobinas dos desvios, mas é um saco. O capacitor dele é lento e é preciso esperar demais para mudar a posição do desvio novamente. Optei por não usá-lo.

f) Da falta de variedade de construções - se por um lado a Frateschi investiu em variedade de vagões e locomotivas, não há quase construções. As que existem, são de boa qualidade, com destaque para a Estação Eng. Passos e o Depósito de Locomotivas. Gosto bastante do acabamento desses dois. Mas a regra é, se você quer construções realmente bem-feitas, faça-as você mesmo ou compre material para maquetes comerciais (bem mais caros). A Minitech tem coisas boas, inclusive de papelão, mais baratas e com bom acabamento.

Acho que só. Se me lembrar de mais alguma coisa, acrescento ao longo do texto.
Dito isso, e chegando à conclusão de que valia a pena investir em produtos Frateschi, mesmo com todos esses contras, passei à aquisição do material.

Trilhos
Ao todo, a maquete tem 30 trilhos retos de 220mm (cód. 4220), 22 trilhos curvos (cód. 4222), 16 trilhos curvos de 30º (cód. 4188), 7 desengates automáticos (cód. 4110 D), 7 pares de AMVs (cód. 4200), 10 trilhos retos de 55mm (cód. 4055) e 5 trilhos retos de 45mm (cód. 4045), além do virador de locomotivas (cód. 4500). Todos os trilhos são de latão, mais baratos, mas oxidam mais depressa.
Material rodante

a) Locomotivas (http://www.frateschi.com.br/produtos/locomotivas.php), todas com pintura da RFFSA: FA-1, G-22U (Fase I) e G-22U (Fase II), G8.

b) Vagões (http://www.frateschi.com.br/produtos/vagoes_carga.php): 4 gôndolas, com pinturas da RFFSA e da CSN; 2 tanques; 1 isotérmico; 4 hoppers tanque com pinturas da RFFSA fase I e II; 1 plataforma; 4 vagões fechados (com pintura da RFFSA); além de dois vagões budd de passageiros trem de prata (http://www.frateschi.com.br/produtos/carros_budd.php). É, só dois desses porque eles são muito longos, minhas estações são muito curtas.

E com isso já dá pra brincar bastante.

3. Montagem da maquete

Esta é a parte demorada.

Em primeiro lugar, é preciso ter um bom tablado de madeira. O meu eu preferi encomendar de um marceneiro, infelizmente não tenho esse tipo de habilidade e penso que ficaria mais caro comprar o material e estragá-lo que encomendar um bom tablado já pronto e montado. O tablado tem 3,0 x 2,0m e é exatamente como manda o manual da Frateschi, com sarrafos bem acomodados, tampo de compensado de 15 mm, pregos sem cabeça e tudo mais. Aqui está uma foto:




O local escolhido foi o canto de uma sala de jantar com 3,60m de largura, o que me proporcionou certa mobilidade durante a montagem, e foi bem útil. O inconveniente desse canto da sala é a janela, ou melhor, a luminosidade excessiva que vem dela e atrapalha um pouco a visão da maquete, mas nada que uma cortina escura não resolva.

Em seguida, partimos (no plural porque, sem a ajuda incansável da minha esposa, a maquete não sairia) para a montagem dos trilhos sobre o tablado. Nessa fase também já pensamos em como seria o relevo e chegamos à conclusão de que a melhor opção seria suspender a linha externa, que voltaria à altitude 0 na altura do pátio de manobras, dos AMVs, para possibilitar a troca de linhas. Para o relevo, usamos e recomendamos enfaticamente o kit rampa da Frateschi, extremamente útil e fácil de montar. Ele vem com pinos de 0,5 cm montáveis e, a cada junção de trilhos, aumenta-se 0,5 cm à elevação, o que não força o motor das locomotivas e evita descarrilhamentos por elevações ou quedas acentuadas. Veja fotos:




A próxima fase era o assentamento/fixação dos trilhos no tablado. Para assentar os trilhos, a Frateschi recomenda usar folhas de cortiça. Nós descobrimos que existe um outro material bem mais flexível e que funciona perfeitamente bem para esse fim: EVA, que pode ser comprado em papelarias na cor que você desejar. Compramos folhas de EVA cinza, já para ajudar na decoração, na mesma cor das pedras de assentamento. Veja fotos dos trilhos assentados em EVA e fixados com preguinhos 5x5:

Nessa foto já é possível ver o virador assentado. Para isso, tive de fazer um furo de 23 cm de diâmetro no tablado com serra tico-tico e colar com Super-Bonder as bordas do virador no local exato onde deveria ficar (de acordo com o trilho que entra nele, vindo do pátio de manobras). Depois, assentei as outras três saídas nos locais exatos, colando a ponta dos trilhos (que ficam em cima da borda do virador) com Super-Bonder.





Para o assentamento, o ideal seria marcar todo o traçado com caneta Pilot (o que fizemos), desmontar os trilhos, colocar o EVA, pregar o EVA no tablado e, em seguida, pregar os trilhos em cima do EVA, mas... depois de todo o trilho montado, ficamos com uma preguiça imensa de desmontar tudo para, em seguida, montar tudo outra vez. Assim, fomos cortando o EVA em partes e inserindo-os por baixo dos trilhos, seguindo rigorosamente a marcação com Pilot que havíamos feito. Depois, pregamos os trilhos com cuidado simultaneamente ao EVA e ao tablado. Com um pouco de cuidado, isso pode ser feito ser problemas. O assentamento dos trilhos é talvez a parte mais importante da construção da maquete. Tivemos o cuidado de deixar os pregos com uma certa folga em relação aos dormentes para não quebrá-los e para retirar os pregos se fosse necessário. Mesmo assim, quebramos alguns poucos dormentes, o que "acaba dando um aspecto mais realista à maquete" (desculpa de gente desajeitada). É essencial que os trilhos estejam muito bem encaixados, sem folgas, para evitar descarrilhamentos. Tivemos também o cuidado de passar alguns vagões por todo o traçado para verificar se descarrilhavam ou prendiam em algum trecho. Nessa fase, também, seguindo meu esquema elétrico (do manual Ferrovias para Você Construir, da Frateschi, acrescido do esquema elétrico da linha externa, elaborado por mim), tive de retirar as talas de junção dos isolamentos. Usei talas de junção duplas de plástico flexível, bastante úteis, que comprei na MultiHobbies em Nova Friburgo(http://www.multihobbies.com.br/). Eles, aliás, têm bons preços para esse tipo de coisa. A linha suspensa (externa) não foi assentada com nada, e sim presa ao kit rampa pelas junções. Nossa idéia era assentar esses trilhos no futuro relevo.

A fase seguinte foi a instalação elétrica. É um processo simples, mas que exige uma paciência de Jó. A primeira coisa a fazer é furar o tablado próximo aos AMVs, isolamentos e pontos de energização das linhas. Só para vocês terem uma idéia da confusão de fios (ainda não fixados) por baixo do tablado:








Como sou aeromodelista, estou já careca de descascar e soldar fios, mas esse processo deve ser feito com o máximo de cuidado, pois são as soldas que vão definir se sua maquete vai "funcionar" ou não. A Frateschi recomenda os conectores Sindal, mas (novamente) como aeromodelista, o único conector em que confio é o DEANS, mas são caros demais. Então achei melhor apenas estanhar os dois fios e soldá-los um ao outro. E funciona perfeitamente bem. Com qualquer outro conector, a perda de energia é muito grande.

Para a instalação elétrica, é essencial que haja uma certa organização de fios, e nisso as cores diferenciadas ajudam bastante. É bom também que os fios sejam fixados em baixo do tablado, sem barrigas. Segundo os meus cálculos, eu devo ter usado mais ou menos 170 metros de fios.

A pergunta seguinte a se fazer é: onde será o meu painel de comando? Nós optamos por não colocá-lo fora do tablado, mas inseri-lo num canto da maquete:






Posteriormente, um pano será colocado na frente desses fios caídos para escondê-los. Decidimos colocar o painel de controle no próprio tablado para poupar trabalho e principalmente espaço; e para inseri-lo no cenário da maquete, já que até o painel foi posteriormente cercado de grama. A partir da primeira foto, da direita para a esquerda: os controles dos desvios, os controles de energização das saídas do virador e o controle do virador, as chaves liga-desliga dos isolamentos e os controladores das linhas 1, 2 e 3.

Depois da instalação elétrica, que me consumiu uma jornada de 10 horas quase ininterruptas, e depois dos testes com locomotivas e vagões, precisamos fazer alguns ajustes - um descarrilhamento que precisa ser evitado aqui, uma solda mal-feita ali, um desvio quebrado, um isolamento que insistia em não funcionar, entre outros. Aqui entra a paciência. Com ela, tudo se resolve. Sem ela, a maquete não sai.

Próxima fase: construção do relevo. Das várias técnicas existentes, resolvemos que seria mais prático fazer o relevo com gesso. Para isso, amassamos folhas de jornal e as colocamos nos locais onde planejamos o relevo, colocamos, por cima do jornal amassado, folhas de jornal molhadas e, por cima dessas, gesso. O contorno que obtivemos com o jornal ficou muito bom e o gesso é um material bastante prático de se trabalhar - e seca rápido. Vejam fotos:





É preciso ter cuidado apenas com a altura desejada do relevo, pois o gesso pesado afunda a camada de jornal. Se você quer fazer uma montanha relativamente alta, não economize em jornal. Essa fase (e todas as outras, devo dizer) foi liderada pela minha esposa, que tem muito mais tino pra esse tipo de coisa que eu.

No outro extremo da maquete, uma montanha maior foi feita para receber o túnel. A base do túnel foi feita de isopor de 5 mm pregado com os mesmos preguinhos do assentamento dos trilhos:



Em seguida, por cima disso, colocamos mais jornal e mais gesso, até chegarmos ao formato da montanha desejado (aproveitamos também para fixar os portais do túnel):






Uma coisa que poderíamos e deveríamos ter feito nessa fase era pintar de preto o interior do isopor para dar a idéia de escuridão dentro do túnel. Agora já era...
Em seguida, fomos tentar fazer o famigerado lago. Esse deu trabalho. O primeiro passo foi furar o tablado com o formato que queríamos (apenas um modesto laguinho) para dar sentido à ponte em arco que usamos. O furo foi feito com tico-tico:



Em seguida, precisávamos definir: 1. que substância usaríamos para encher o lago e imitar água e 2. como faríamos o fundo do lago. Nossa primeira opção foi a resina, que endurece e é bastante transparente. Então decidimos fazer o fundo do lago com uma bandejinha de depron (essas embalagens de carne):



Comprei um frasco de resina acrílica e... desastre! Que ingenuidade. A resina acabou totalmente com o depron (infelizmente, no calor da decepção, esqueci de tirar fotos do sinistro).

2a tentativa: fazer o fundo do lago com madeira:



Em seguida, acreditando que a viscosidade da resina dispensava uma vedação do fundo do lago, tasquei resina e... ela escorreu toda pro chão. Chegamos à conclusão de que a resina acrílica não era a substância adequada. Fomos à loja de tintas e descobrimos que existe uma resina poliéster, usada para colar fibras. Essa sim, seria a adequada. É um líquido relativamente translúcido (meio amarelado) que vem com um conta-gotas de líquido catalizador para fazê-lo endurecer. Aí sim, a coisa deu certo:





A aparência da resina é bem parecida com a de água. Tivemos o cuidado de, dessa vez, vedar o fundo do lago com tinta e serragem, além de pintar o fundo do lago de azul claro, para dar uma cor à resina (já que não conseguimos encontrar uma tinta que diluísse na resina, nem mesmo corante poliéster). Mas... horas depois de seca, a resina começar a ficar dura demais, e o aspecto de água começou a se perder. No momento, estou pesquisando meios de melhorar a aparência desse lago. A saga do lago ainda não acabou.

Bom, continuando com a construção, agora já na fase de decoração da maquete, pegamos serragem com o marceneiro que fez o tablado, peineiramos para usar apenas a serragem mais fina, tingimos com tinta xadrez em pó (um processo bastante simples, basta colocar a serragem num saco plástico, acrescentar a tinta e chacoalhar), e fomos colando na superfície do tablado com uma mistura de 50% de cola branca e 50% de água:



As montanhas foram pintadas de verde (mas de uma tonalidade meio azulada, fomos enganados pela cor na lata da tinta), e também cobertas com grama (com uns retoques de tinta cor cinza):



O passo seguinte foi a colocação das pedrinhas. Usamos pedrinhas de aquário bem pequenas de cor cinza claro e escuro, muito mais baratas que os saquinhos de pedra vendidos pela Minitech e pela Frateschi e de mesmíssimo efeito estético:




O processo de empedramento das linhas é meticuloso e demorado. É aconselhável empedrar as linhas apenas depois de todo o resto pronto, depois de garantir que os trens estão rodando bem e não há falhas elétricas. Retirar um segmento de trilho empedrado sem quebrá-lo é um trabalho hercúleo. As pedras são coladas em volta da linha da mesma forma que a grama, mas a atenção deve ser redobrada para a parte de dentro dos trilhos - nenhuma pedrinha deve enganchar nos vagões ou locomotivas. Nos AMVs, o processo é ainda mais crítico. Qualquer pedra que enganche na agulha ou que barre o movimento dos trilhos nos AMVs pode fazer o trem descarrilhar. Depois de tudo colado e seco, é bom aspirar o excedente - e ter paciência para dar vários retoques depois (tanto nas pedras quanto na grama).

4. Decoração da maquete

Nossa maquete foi decorada seguindo o pensamento de que a cena retratada seria de uma rodovia no interior do Estado do Rio de Janeiro no começo da década de 60. Todas as locomotivas são a diesel, dessa época. As construções são antigas, há cavalos, bois, vacas, galinhas e porcos. A estação Eng. Passos e a plataforma coberta dão um ar interiorano à maquete. Há também uma praça com bancos, pessoas esperando o trem nas estações (sentadas e em pé), uma mulher dando milho às galinhas, três casas, postes de fio de eletricidade (feitos de linha de tecido escura), postes de luz nas estações (alimentados por uma fonte de 12v de um fone de ouvido sem fio que não funciona mais), uma torre de controle, depósito de óleo perto do depósito de locomotivas, caixa d'água, trabalhadores fazendo a manutenção de uma das linhas, fusquinhas e um fordeco, uma estrada de chão que sai da estação para as casas (feita de serragem não tingida), entre outros.

Está curioso para ver como ficou a maquete pronta? Veja aqui

5. As composições

O trem de passageiros é formado da FA-1 com os dois vagões do trem de prata (Rio-São Paulo). Os trens de carga são formados por: uma G8 com gôndolas de minério, as G22U com o restante dos vagões, divididos em fechados e com substâncias (frigorífico e óleo). Padronizei que, pelo tamanho da maquete e devido às restrições de manobra, cada composição terá no máximo 5 vagões. Uma das locomotivas, geralmente a G22U RFFSA Fase II fica estacionada no depósito de locomotivas, substituindo eventualmente a locomotiva que faz o trajeto da linha externa com relevo, para poupar um pouco o motor. Vagões sobressalentes ficam estacionados no pátio de manobras até serem acoplados às composições em movimento.

6. A operação da maquete

O trem de passageiros dá algumas voltas na linha interna e pára depois do AMV que leva à estação Eng. Passos. Vai de ré até a estação e pega os passageiros. Dá mais algumas voltas pela linha interna. A composição de carga da linha central circula até que pára no isolamento perto do lago. A composição de carga da linha externa (com relevo) circula até que pára no isolamento da estação Central (plataforma coberta). O trem de passageiros passa, então, para a linha 2 e, em seguida, para a linha 3. A composição de carga da linha 2 (central), sai do isolamento e volta a circular. A composição de carga da linha 3 (externa) sai do isolamento e, simultaneamente ao trem de passageiros, volta a circular. Depois de umas voltas, o trem de passageiros entra pelos AMVs que levam à estação Central e deixa os passageiros que embarcaram na estação Eng. Passos. Um processo inverso ocorre até que cada composição esteja em sua linha devida.

É isso? Terminou? Ainda não. Um ferreomodelista amigo meu diz que "o processo de construção de uma maquete de ferreomodelismo não termina nunca" (que minha esposa não leia isso...), mas já há planos para aumentar o traçado pela parede lateral até uma cidade. Aí a ferrovia será da cidade para o campo e vice-versa. As modificações mais imediatas serão acréscimos de pessoas e construções, como uma igreja com uma cena de casamento, um parque para as crianças, e algumas outras casas.

Parabéns a você que aguentou ler até aqui. Espero que essas informações possam lhe ser úteis de alguma maneira. Se você teve paciência de ler todo esse texto, já passou no teste preliminar de "espírito de Jó" para começar a construir a sua maquete. E aos ferreomodelistas que lerem este texto, peço que façam críticas/sugestões sobre minha maquete nos comentários. Todas serão bem-vindas!

Grande abraço,

Lanzetti

32 comments:

Fabricio Yuri said...

Vc é doido, mas o post ficou maneiro. Quando eu ficar rico, vou brincar disso também.
Aliás, o post dos dialetos e afins está ótimo. Parabéns!

Rafael Lanzetti said...

Valeu, meu camarada! Mas isso n�o � hobby de rico, n�o, � pra quem tem paci�ncia de J�!

Um abra�o,
Lanzetti

Anonymous said...

Cara,
tu moras numa mansão? quantos "robes"(rs) vc tem? Parabéns pelo post...
abs
Emerson

Rafael Lanzetti said...

Heheh Emerson, a maquete está na casa dos meus pais. Aqui em casa, se construída, provavelmente me custaria um processo por impedimento do direito de ir e vir.

Um abraço,
Lanzetti

Anonymous said...

Beleza Rapaz !!,ficou legal o seu post da sua maquete ,parabens,a minha estou refazendo pois tive que "desmontar/destruir" parte dela para ampliar(para cima!!) minha casa vista meu Youtube:
http://www.youtube.com/profile?user=ricardoprincipe
tem alguns videos da natiga maquete e de trens tambem,abraço e veja tambem meu blog:

www.ricardoprincipedimantova.blogger.com.br aonde eu narro a historia real de um artista no Brasil
Abraço e sucessos !
Ricardo Principe di Mantova

Rafael Lanzetti said...

Obrigado, Ricardo. Vou ver agora os seus vídeos e blog.

Um abraço,
Lanzetti

Anonymous said...

Cara sua maquete ficou maneira, mais tem um detalhe vc quando botou a estação Eng.Passos tinha que ter botado ela em um lugar que a locomotiva não precisasse dar ré, e sim num lugar que ela passasse na estação e isse em frente. Mas fora isso tua maquete ta manera!!! Vlw!

Rafael Lanzetti said...

Você está certo, mas eu não tinha alternativa. Não havia mais nenhum lugar para a estação por conta do pátio de manobras.

Obrigado pelo comentário.

Um abraço,

Lanzetti

Anonymous said...

Eu to querendo iniciar umma mas to querendo pegar experiencia com outros ferreomodelistas para temtar montar a minha mas sua maquete ficou show de bola pretendo utilizar sua ideia do gesso.Ramos-247@hotmail.com

Anonymous said...

Bem eu acho que sua montanha por onde passa o trem,está pequena e acho também que se você encorpar mais esta montanha assim como fez na montanha da outra extremidade da maquete vai ficar melhor e mais bonita.
bem essa era a unica sugestão que eu tinha a fazer; quanto ao resto acho que está tudo ótimo.


Daniel

Unknown said...

Parabéns cara ficou muito bonita a sua maquete, eu sou ferreomodelista e tambem passei por isso tudo com exceção do lago. será que vc tem foto dela toda ?

Unknown said...

Parabéns cara ficou muito bonita a sua maquete, eu sou ferreomodelista e tambem passei por isso tudo com exceção do lago. será que vc tem foto dela toda ?

Adriana said...

Achei muito bacana sua ideia, interessante e muito criativo, pena que nao consigo fazer nem uma florzinha

Parabéns!!!

IRINEU TRENTIN JUNIOR said...

Bem, você fez sua maquete, muito bem feita e bonita, por sinal. Vou começar fazear a minha, vou utilizar sua experiência, com certeza. Mas me desej boa sorte. Ablçs.

abrete said...

Oi, Lanzetti... parabéns pela ferrovia... só uma pergunta... depois de montada tem tanta graça quanto o processo todo de fazer em si?

Rafael Lanzetti said...

Bem, David, tenho que admitir que o maior barato é construir, mas operar e fazer a manutenção na maquete também é bacana. Em suma - vale o esforço.

almirdesouza said...

Ola cara, esta maquete sua ficou show, estou montando uma 260X120 esta ficando legal, minha duvida é a segine quando voce monta a elevação não tem problema de encaixe?

Rafael Lanzetti said...

Olá, Almir, você diz em relação aos trilhos? Se for isso, você resolve o problema com a elevação de plástico da própria Frateschi que usei na maquete, são peças de plástico que se encaixam para produzir uma elevação gradativa (que não force as locos) e o encaixe é perfeito.

Grande abraço,
Lanzetti

danilo peluso said...

Belo trabalho. Estou finalizando uma maquete e preciso de informações quanto a parte eletrica da mesma.Onde vou encontra-las?

Ivanvs said...

Realmente eu gostei da sua produção, muito interessante, trabalhosa e o resultado é o melhor possível.
Tenho varios projetos em minha cabeça, e só falta o lugar para colocar em prática, tem de 16 a 20 anos que tenho em casa a primeira caixa básica da Frateschi, depois meu irmão comprou umas caixas de trilhos, algumas locomotivas, e varios vagões, agora só preciso do espaço, pois a paciência, tenho de sobra.

Trabalharei na companhia de meu primo, que esta me ajudando no projeto, agora em julho vou fazer uma viagem de BH a Vitória, via EFVM, aproveitar enquanto posso ainda.

E espero conseguir algumas troca de informações ao longo da minha montagem contigo, abraços então.

Ivan

jose said...

aMIGO SEU ROJETO EH DEZ.Agora c pode ajudar um iniciante desesperado?
Montei os trilhos no tablado projeto FRAESCHO A+b+b+c E COLOKEI 2 CONTRLADORES NOVOS MAS SIMPLESMENTE NAO FUNCIONA!
Agradeço a força.

jose
gepetomello@gmail.com

roberto silva said...

ficou legal cara eu aprendi algumas coisas com sua dicas de construcao pois pretendo construir um trenzinho eletrico no meu quintal e suas dicas foram de grande valia,parabens pela obra

Roberto Silva

Denny Loveshot said...

Gostei muito da dica do pó xadrez...eu sempre ultilizava tinta para fazer tingir a serragem e demorava um tempão para secar...
Mas meu estilo de maquetes é diferente...gosto mais de fazer maquetes de guerras..esse tipo de coisa, nunca gostei muito de ferromodelismo.
Mas muito bom seu blog.
Abraços

Anonymous said...

Simplesmente linda kra!!! Parabéns. Posso seguir seu projeto? Fazer parecido??? hehehe

Rafael Lanzetti said...

Fique à vontade, André, mas adapte o layout ao seu espaço, talvez você consiga colocar a estação em outro lugar.

Christian Steagall-Condé said...

LANZETTI, excelente desafio! Ainda mais, feito sozinho! Também atualizamos o nosso blog da ALLFe, com os esquemas de tráfego e projeto de uma Maquete HO, vale uma conferida:

http://allfe.blogspot.com

ytry said...

Meus parabéns a vc e sua esposa pelo excelente trabalho,também aproveitei para pegar alguns macetes da sua .

Anonymous said...

cara vc foi o melhor blog que eu ja entrei

cara vc me vai ajuda pra car@#$!! obs
eu tenho 11 anos ai eu vo pedi um trem cargeiro de niver e paul na maquina vo monta minha maquete!!!!!

falo e coa sorte com suas novas construçoes

Anonymous said...

cara vc foi o melhor blog que eu ja entrei

cara vc me vai ajuda pra car@#$!! obs
eu tenho 11 anos ai eu vo pedi um trem cargeiro de niver e paul na maquina vo monta minha maquete!!!!!

falo e coa sorte com suas novas construçoes

Rafael Lanzetti said...

Valeu pelo comentário. Boa sorte aí com a montagem da sua maquete. Precisando de qualquer coisa, mande comentário!

Abraço,
Lanzetti

Anonymous said...

eae blz so eu de novo agora com uma pergunta sobre a fiaçao assim os postes os semaforos sao tudo na base da chave???????????


valeu falo

Unknown said...

por favor o que é pontos de isolamento.